(O Globo) Nicholas D. Kristof, colunista do The New York Times, assina artigo em que analisa o avanço das mulheres no mercado de trabalho e na educação e opina que não se trata nem de uma “guerra entre os sexos” e nem do “fim do homem”, mas de uma nova era em que todos – homens e mulheres – irão se beneficiar.
Leia o artigo na íntegra:
“GUERRA DOS SEXOS
Oyang da força de trabalho dos EUA é: depois de uma carreira de 40 anos, um homem recebe, em média, US$ 431 mil mais do que uma mulher, segundo o Center for American Progress.
O yin é: nesta década, pela primeira vez na história do país, os homens não mais dominam inevitavelmente a força de trabalho. Na realidade, as mulheres foram maioria nas folhas de pagamento nos últimos cinco meses até março, segundo o Escritório de Estatísticas do Trabalho, do governo federal. Isto ocorreu principalmente porque três quartos dos que perderam seus empregos na Grande Recessão eram homens.
Agora, os homens voltaram a ter uma ligeira maioria porque são mais propensos a trabalhar em empregos de verão, tais como a construção civil. Os EUA podem agora tender para um lado ou para o outro, com os homens predominando nos verões e as mulheres, nos invernos. Com as mulheres avançando mais no mercado, há uma grande pergunta. São elas mais adequadas aos empregos de hoje do que os homens? A revista “The Atlantic” levantou a questão provocativamente na edição deste mês, com uma reportagem de capa escrita por Hanna Rosin sob o título “O fim do homem”.
“E se a moderna economia pós-industrial for mais compatível com mulheres que com homens?”, pergunta Hanna. E acrescenta: “A economia pósindustrial é indiferente ao tamanho e à força do homem. Os atributos mais valorizados — inteligência social, comunicação aberta, capacidade de se concentrar e focar — são, no mínimo, não predominantemente masculinos. De fato, o oposto pode ser verdadeiro.” É uma questão justa e outros também têm imaginado se uma nova era de feminidade está surgindo. Afinal, Hanna Rosin observa que a maior parte dos americanos que usam biologia high-tech para escolher o sexo de um bebê prefere meninas. E as mulheres ocupam hoje 51% das posições profissionais e gerenciais nos EUA, contra 26% em 1980. Também é verdadeiro que, apesar de os homens ainda dominarem a elite do poder americano, eles também dominam os degraus mais baixos da escada. Os prisioneiros são 90% homens e há estimativas de que o predomínio masculino é enorme entre a população de rua.
Se o desempenho escolar antecipa o sucesso profissional, as mulheres podem se sair ainda melhor em algumas décadas: as meninas superam os meninos nos estudos como nunca antes. A National Honor Society, para estudantes de ponta do ensino médio, informa que 64% de seus membros são do sexo feminino. Dados do Centro para a Política Educacional mostram que, em leitura, os garotos estão atrás das garotas em todos os estados americanos.
Ainda assim, sou cético. Meu pressentimento é que vamos em direção a um maior equilíbrio. Não prenda a respiração pelo “fim do homem”. Uma razão é que o avanço feminino ainda tem um quê de superar o atraso, o que é mais fácil do que ir em frente. Além do mais, as diferenças em desempenho educacional são reais, mas modestas.
Em matemática, meninos e meninas estão quase empatados. Em habilidades verbais, 79% das alunas do ensino elementar conseguem ler num nível considerado proficiente, contra 72% dos alunos.
Acho que exageramos o conflito entre os sexos. Como disse Henry Kissinger, “ninguém jamais ganhará a batalha dos sexos. Há muita confraternização com o inimigo”. Nós queremos que nossas mulheres e filhas encontrem oportunidades de trabalho, não assédio sexual; mulheres querem que maridos e filhos estejam em postos executivos, não na cadeia.
A verdade é que nós, homens, nos beneficiamos com o ganho em igualdade obtido pelas mulheres. Os que perderam o emprego na recessão agora provavelmente têm uma esposa que ainda está empregada e pode pagar a hipoteca. E as mulheres têm se destacado na área social, criando programas para ajudar os desempregados e homeless, predominantemente homens.
Então esqueça a guerra dos sexos e jogos de soma zero. Há chance de que nós, homens, conseguiremos nos segurar, com a ajuda das mulheres. E todos nos beneficiaremos à medida que mulheres inteligentes e talentosas tenham a oportunidade de distribuir seus dons em benefício de toda a humanidade — inclusive daqueles de nós com cromossomos Y.
NICHOLAS D. KRISTOF é jornalista.
© The New York Times”