(Agência Brasil, 29/11/2014) Apresentar a estudantes do ensino médio personalidades femininas que têm trajetória de destaque foi o que motivou a professora Gina Vieira Ponte, da rede pública do Distrito Federal, a criar o Projeto Mulheres Inspiradoras, um dos vencedores do Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos, entregue nesta semana. O projeto incentiva a leitura, a escrita e o repeito à igualdade de gêneros.
Em contato com os estudantes por meio das redes sociais, a professora conta ter observado que as adolescentes postavam conteúdos com teor erotizado, como fotos e vídeos com poses e danças sensuais. As postagens, muitas vezes, geravam comentários desrespeitosos por parte dos meninos. Ao pesquisar o motivo desse comportamento, Gina concluiu que os jovens reproduziam o que viam de personalidades que estão na mídia e têm apelo entre os jovens.
“Fui investigar e descobri que se trata de um comportamento que é uma característica do uso da tecnologia para a sexualidade e constatei que, muitas vezes, elas [as meninas] fazem isso celebrando os referências que estão nas grandes mídias, então, seria natural que reproduzissem esse referencial”, explicou a professora, que trabalha no Centro de Ensino Fundamental 12 da Ceilândia, uma das regiões administrativas do Distrito Federal.
Na tentativa de mudar essa situação e mostrar referenciais diferentes, Gina decidiu apresentar aos alunos do 9° ano do ensino fundamental exemplos de mulheres que tiveram a trajetória marcada pela defesa dos direitos humanos ou atuaram pelo bem da coletividade. Começou assim o Projeto Mulheres Inspiradoras e foram selecionadas dez personalidades, como a poetisa goiana Cora Coralina, a escritora judia Anne Frank, a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, a médica Nise da Silveira e a biofarmacêutica Maria da Penha Fernandes, cuja luta inspirou a Lei Maria da Penha, que endurece as punições para os casos de violência doméstica contra a mulher. Os estudantes leram biografias sobre elas e entrevistaram uma mulher inspiradora do seu convívio como a avó, a mãe ou uma vizinha.
A professora conta que o projeto buscou oferecer também uma referência positiva para as redes sociais, convidando pessoas para fotografar segurando um cartaz com a frase “Nós dizemos não a qualquer violência contra a mulher”. A iniciativa, explica ela, foi pautada pelo estudo da biografia de Maria da Penha, vítima de violência do marido. “Criamos uma rede do bem em defesa da mulher e de uma sociedade pautada na defesa da igualdade de gênero.”
A estudante Júlia Rodrigues de Medeiros, de 14 anos, conta que, com as atividades, percebeu que só conhecia as mulheres famosas que não trabalham em favor da sociedade. “Aprendemos a valorizar as mulheres que estão ao nosso redor e que fazem uma revolução silenciosa e que, às vezes, não percebemos. Precisamos prestar atenção a elas e dar valor”, disse Beatriz.
Júlia destaca que, entre as personalidades que estudou, sua preferida foi Irena Sendler. “Achei muito heroico o que ela fez, ao salvar crianças dos campos nazistas na segunda guerra mundial. Ela foi perseguida e, mesmo assim, não parou”, disse a estudante.
Na avaliação da professora Gina, os resultados do projeto são positivos e fizeram aumentar o interesse dos estudantes pela escola. “Buscamos uma educação preocupada com a formação para a cidadania. Uma educação que não é capaz de transformar o comportamento das pessoas, ela não está cumprindo seu papel”.
O Projeto Mulheres Inspiradoras foi o vencedor do prêmio entre as escolas públicas da categoria A Educação em Direitos Humanos na Escola. Esta foi a quarta edição do prêmio, que é uma iniciativa da Secretaria de Direitos Humanos e do Ministério da Educação, com apoio de organizações ligadas às duas áreas.
Yara Aquino
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