(O Globo, 01/12/2014) Conscientes da necessidade que as empresas terão no futuro, as escolas de negócios estão procurando aumentar a presença feminina nas salas de aula. Não por acaso, os rankings das instituições mais prestigiadas do mundo medem a presença delas nas aulas de formação de gestores. Mas a média mundial de participação das mulheres, nas escolas top 10 do “Financial Times” é baixa: 24,2%. Já no Brasil, pesquisa da Associação Nacional de MBAs (Anamba) revela que, nas instituições associadas, elas representavam, em 2013, 34% dos alunos.
Curiosamente, os indicadores de gênero na educação superior no Brasil indicam um número de mulheres maior que o de homens. Entretanto, observa-se diferença entre as amostras de 2013 e de dois anos antes — em 2011, 29% dos alunos de cursos de pós-graduação eram mulheres.
‘QUANTO MAIS VISÕES, MELHOR’
Pregar o equilíbrio entre os gêneros, dizem especialistas, reflete o consenso no meio acadêmico de que as mulheres têm contribuição efetiva a dar nas escolas e no mercado. No universo empresarial, a percentagem de mulheres no comando também é pequena: no Brasil, ocupam 23% da alta gestão, sendo que no cargo de CEO, são só 14%, segundo o “International Business Report 2013”, da consultoria Grant Thornton.
— O fato de haver mais mulheres nas classes de MBAs implica aumento da diversidade não só de gênero, como de formação, profissão e posição na carreira. No MBA, há inúmeras chances de aproveitar essa diversidade, pois o foco é discutir casos associados à teoria e concluir de forma colaborativa com os alunos — diz Armando Dal Colletto, diretor executivo da Anamba, para quem, quanto mais visões diferentes apresentadas, melhor. — A contribuição feminina na objetividade, disciplina, sensibilidade e severidade é muito clara.
Em 100º lugar no ranking do “Financial Times”, o “MBA Executivo Global” do Instituto Coppead da UFRJ aparece com um percentual de 28% de estudantes do sexo feminino. Segundo Vicente Ferreira, seu diretor, no geral, esse número é de 35%. E, no quadro de professores, 50% são mulheres.
— O curso de marketing é o mais procurado pelas mulheres por conta do perfil da área. Mas nos últimos três anos a participação feminina cresceu em média 40% no curso de finanças — frisa Ferreira, que diz que a mulher se difere dos homens, normalmente, por características como maior aplicação e maior exigência com as suas próprias falhas.
Renata Nogueira, coordenadora-geral de Educação Executiva do Ibmec/RJ, conta que, recentemente, a escola ministrou o curso “Inovação e negócios”, em parceria com a Boston College e que, no grupo que passou uma semana estudando em Boston, 35% eram mulheres, taxa sensivelmente superior à de cinco anos atrás:
— As alunas têm visão mais holística. Elas focam no detalhe ao mesmo tempo em que são multitarefas.
O número de programas de educação executiva voltados para mulheres, inclusive, tem aumentado nos últimos anos.
DO CANADÁ PARA AS IMIGRANTES
Um deles é o 10,000 Women, lançado em 2008 pelo Banco Goldman Sachs com o objetivo de garantir a formação de negócios a 10.000 mulheres ao redor do mundo. O projeto, finalizado em 2013, contou com a parceria de escolas de negócios de padrão mundial.
No Brasil, a Fundação Dom Cabral foi uma das escolas selecionadas e, ao longo de cinco anos, 800 mulheres de 84 municípios de Minas e Rio foram capacitadas em gestão, gratuitamente. No fim de 2013, o faturamento desses negócios somados ultrapassou a marca de R$ 315,7 milhões/ano. Dessas empreendedoras, 34% aumentaram sua lucratividade de 10% a 20% com o programa.
Outro programa para mulheres é o “Master de governança corporativa e mercado de capitais para executivas”, de 150 horas, oferecido pelo B.I. International em parceria com a WCD (Women Corporate Directors). O conteúdo inclui módulos de imersão internacional na Columbia University (Nova York) e na John Hopkins (Washington). O B.I. International é uma escola de educação executiva com unidades em São Paulo, Ribeirão Preto, Brasília e Belo Horizonte.
No Canadá, a Iniciativa para Mulheres nos Negócios, da Rotman School of Management, da Universidade de Toronto, lançou o “Business Edge“ em 2010. Os governos do Canadá e da província de Ontário deram cerca de US$ 2,5 milhões para financiar o programa, que foi pensado para ajudar profissionais mulheres imigrantes que sejam altamente qualificadas a avançarem na carreira no país.
Luciana Calaza
Acesse o PDF: Escolas de negócios querem mais mulheres (O Globo, 01/12/2014)