(Folha de S.Paulo/Correio Braziliense) O Conselho Federal de Medicina liberou no início de setembro a realização de cirurgias de extirpação de útero, ovários e mamas. Os interessados também podem se submeter a tratamentos hormonais que estimulam o surgimento de características masculinss, como voz grossa e barba.
Antes, esses procedimentos eram considerados “experimentais” e só eram feitos nos poucos hospitais que se submetem aos restritivos protocolos da pesquisa científica. Segundo a nova resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), ainda se considera “experimental” a cirurgia chamada “neofaloplastia”, que consiste no alongamento do clitóris ou construção de um pênis com a musculatura do antebraço da pessoa.
O processo até a cirurgia de redesignação sexual é longo -pode levar mais de dois anos- e obedece os critérios estabelecidos pelo CFM. O interessado em se submeter à mudança deve ser maior de 21 anos e precisa ter sido diagnosticado como transexual por uma equipe de psicólogos e psiquiatras.
Em alguns meses, o tratamento hormonal -que consiste em aplicação de testosterona no caso das mulheres- produz os primeiros efeitos: crescimento da barba, engrossamento da voz e aumento do tamanho do clitóris.
Se quiser, o paciente pode se submeter à mastectomia (retirada das mamas) e realizar operações para eliminar útero, trompas, ovário e vagina. Segundo o urologista Carlos Cury, especialista em cirurgias de transgenitalização, boa parte já se satisfaz em retirar os seios.
“Isso já causa um impacto emocional, esses pacientes têm uma necessidade muito grande de se mostrar como homens.”
Para a Organização Mundial da Saúde, a transexualidade um distúrbio e é essa caracterização que facilita o acesso à cirurgia. “O SUS só paga a cirurgia porque esse fenômeno é considerado um transtorno. Se não fosse, essas operações seriam tidas como meramente estéticas”, explica Alexandre Saadeh, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
Em artigo publicado no Correio Braziliense, a psicóloga social Jaqueline Jesus, doutoranda pela Universidade de Brasília, aborda o tema da transexualidade em seus elementos mais fundamentais.
A reportagem da Folha ouviu os depoimentos de dois transexuais masculinos (que nasceram mulheres).
“Sou um homem que nasceu com defeito no órgão genital”, define o chapeiro João Vitor Gonçalves dos Santos. “Depois que eu retirar os peitos, poderei vestir camiseta sem manga, em vez de viver me escondendo por baixo de camadas e mais camadas de camisas e casacos”, diz João Vitor, que quando nasceu foi registrado com o nome de Josiane. Ele faz tratamento hormonal há três anos e só esperava a autorização do CFM para fazer a cirurgia.
“As lésbicas são mulheres, eu não sou. Me sinto como homem. Penso como um”, diz o serigrafista Renato Fonseca, nascido Rosane, que está em processo de transformação há dois anos, desde que descobriu o tratamento e a existência de outras pessoas como ele. Enquanto não faz a cirurgia, Renato usa várias camisetas e uma faixa para apertar os seios sob o terno.
Leia a reportagem completa com os depoimentos: Homem em obras (Folha de S.Paulo – 12/09/2010)
Saiba mais: Transexualidade: breve introdução (Correio Braziliense – 13/09/2010)