(ONU Mulheres, 24/07/2015) ONU e governo do Brasil lançaram nessa quarta-feira (22) a Década Internacional de Afrodescendentes. O Brasil possui a segunda maior população afrodescendente no mundo, com cerca de 105 milhões de pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas
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Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento é o tema da Década Internacional de Afrodescendentes lançada nacionalmente pelo Sistema das Nações Unidas no Brasil em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), nesta quarta-feira (22), em Brasília, durante a programação do Festival Latinidades da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha.
Foi lançada também a plataforma da Década – www.decada-afro-onu.org – onde é possível acessar informações completas sobre a Década Internacional de Afrodescendentes, incluindo vídeos, fotos, notícias e eventos, no Brasil e em diversos países do mundo.
O chefe da Divisão África do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Mahamane Cisse-Gouro, esteve presente no evento e afirmou que “nos últimos anos, os Estados fizeram progressos importantes ao integrar, em suas constituições e legislações, medidas protetivas para pessoas afrodescendentes”. No entanto, ele reconheceu que “o caminho – para um mundo livre de racismo, preconceitos e estigmas – é cheio de pedras. Combater a discriminação racial é um esforço de longo prazo que exige empenho e persistência”.
No caso do Brasil, o chefe da Divisão de Direitos Humanos do Ministério das Relações Exteriores, Pedro Saldanha, acredita que é o momento de se reavaliar os caminhos para continuar avançando para tornar a sociedade cada vez mais justa. No evento, ele afirmou que, no contexto internacional, o país foi um dos principais incentivadores da Década. “O papel do Brasil é muito importante nos fóruns multilaterais internacionais. Sempre se espera muito do nosso país especialmente nessa área dos direitos humanos, em particular para os temas dos afrodescendentes”, afirmou Saldanha.
A presidente da Fundação Cultural Palmares, Cida Abreu, defendeu que uma das formas de se tornar a sociedade mais justa e inclusiva para os afrodescendentes é “fazer dessa década não somente um momento de reflexão, mas um momento de consolidação das políticas públicas voltadas à igualdade racial e à cultura afrodescendente”.
O coordenador residente do Sistema ONU, Jorge Chediek, explicou que o Brasil obteve um progresso enorme nos seus indicadores sociais e de desenvolvimento humano nos últimos anos e que os negros no Brasil tiveram um progresso ainda maior do que o restante da população. No entanto, a base era tão ruim que as desigualdades entre brancos e negros persistem ainda hoje. “Uma mulher negra recebe, em média, a metade da remuneração de uma mulher branca. De todos os homicídios cometidos no Brasil em 2012, 77% foram contra negros”, exemplificou.
“Portanto, mesmo em um país que tem avançado tanto, ainda há muito o que se fazer e a Década é uma extraordinária oportunidade para avançarmos nas políticas públicas voltadas aos afrodescendentes. Confiamos que nos próximos 10 anos, teremos um evento como esse para comemorar avanços que mostrem que a remuneração das mulheres negras é igual a das mulheres brancas; que os jovens negros não são mais vitimizados pela sua raça, pela sua pele; que o setor público não só abre suas portas a negros e negras, mas que cada vez mais eles tenham mais responsabilidades”, finalizou Chediek.
Em sua fala, a ministra da SEPPIR, Nilma Lino Gomes, chamou atenção para a força da mulher negra e também comemorou a aprovação da reunião das autoridades responsáveis pelos direitos afrodescendentes do Mercosul. Para ela é importante que os negros em todas as regiões não percam as esperanças e a força ancestral que une a população afrodescendente de todo o mundo. “Nós existimos e nós resistimos sempre”, finalizou a ministra.
Sobre a Década Internacional de Afrodescendentes – Por meio da resolução 68/237, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o período de 2015 a 2024 como a Década Internacional de Afrodescendentes com o objetivo principal de promover o respeito, a proteção e a realização de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais dos povos afrodescendentes, como reconhecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Década é também uma oportunidade para reconhecer a contribuição significativa dos povos afrodescendentes às nossas sociedades, bem como propor medidas concretas para promover sua inclusão total e combater todas as formas de racismo, discriminação racial, xenofobia e qualquer tipo de intolerância relacionada.
Sobre o Festival Latinidades – Em sua oitava edição, o Festival Latinidades já figura como o maior Festival de Mulheres Negras da América Latina e vem trazendo importantes temas relacionados à superação das desigualdades de gênero e raça, colocando a cultura negra da diáspora em visibilidade. Sediado no Distrito Federal, o Festival foi criado em 2008 para comemorar o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho.
Acreditando que a cultura é um espaço estratégico e mobilizador dos temas tratados, o projeto envolve diversas linguagens artísticas, formação, capacitação, empreendedorismo, economia criativa e comunicação.
Neste ano o tema do Festival é Cinema Negro e tem por objetivo debater o protagonismo e a representação das mulheres negras no cinema, colocando-as no centro das discussões sobre políticas públicas para o audiovisual. O evento acontece no Cine Brasília de 22 a 26 de julho.
Acompanhe a Década pelo site oficial em português: www.decada-afro-onu.org
Confira aqui o depoimento do cantor e compositor Gilberto Gil à ONU Brasil, em 2013, quando a Década Internacional de Afrodescendentes ainda não havia sido aprovada.
Acesse no site de origem: ‘Combater a discriminação racial é um esforço que exige empenho e persistência’, afirma ONU (ONU Mulheres, 24/07/2015)