(Seppir, 18/09/2015) A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR) repudia veementemente os ataques desferidos contra comunidades tradicionais de matriz africana em todo o Brasil.
Recentemente, ataques motivados pela violência religiosa foram praticados contra casas de matriz africana nas cidades de Santo Antônio do Descoberto e Águas Lindas, no estado de Goiás, mas sabemos que estes não são casos isolados.
Também há pouco tempo, o país ficou chocado com o ataque a uma família brasileira praticante de uma religião de matriz africana no Rio de Janeiro. Uma criança foi apedrejada, o que evidencia o grau de violência envolvida no acontecimento. O motivo da agressão é, tão somente, que essa família integra uma comunidade que segue as tradições e visões de mundo africanas que vieram para as Américas no período escravista e que permanecem vivas no Brasil até hoje, compartilhadas por milhões de pessoas.
Outro caso recente envolveu o falecimento de Mãe Dede de Iansã, na Bahia, uma senhora já idosa, que sofria agressões sistemáticas de pessoas que a acusavam de praticar uma seita demoníaca. O infarto que Mãe Dedé sofreu é interpretado como resultado da tristeza e sofrimento causado pela situação. Independente da causa mortis dessa liderança tradicional, a SEPPIR lamenta essa perda, e aponta o componente racista desses ataques muitas vezes interpretados apenas como intolerância religiosa.
O povo brasileiro tem liberdade de culto assegurada desde a República Velha, no século XIX. Mas as práticas religiosas de povos e comunidades de matriz africana e de terreiros seguiram sendo reprimidas e desvalorizadas. Por décadas foi exigido que casas tradicionais tivessem registro na polícia para permissão de funcionamento, por exemplo. Essa condição de segunda cidadania explicita o racismo contido nos ataques feitos a essas comunidades, crime que vai além da tolerância ou não a uma prática religiosa.
Os povos tradicionais de matriz africana e de terreiros se reconhecem como unidades de resistência cultural no país. Esses coletivos se caracterizam pela manutenção de um contínuo civilizatório africano no Brasil, constituindo territórios próprios marcados pela vivência comunitária, pela ajuda mútua, pelo acolhimento e pela prestação de serviços sociais.
A SEPPIR, por meio da Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial, envidará esforços para que sejam apurados os fatos dessas e de outras agressões sofridas por esses povos e suas comunidades, que são importante patrimônio cultural do Brasil e da humanidade. É fundamental que o país esteja unido para enfrentar o racismo em todas as suas manifestações, como forma de construirmos uma sociedade democrática e sem discriminação racial.
Acesse no site de origem: Nota de repúdio da Seppir sobre intolerância religiosa (Seppir, 18/09/2015)