(O Dia, 15/10/2015) A menina de 12 anos teria sido humilhada e abusada três vezes por garotos mais velhos. Acusados seguem no colégio
Um mês após ter sua intimidade exposta em vídeo pelo WhatsApp, X., 12 anos, aluna do Colégio Pedro II reaprende a viver. A menina e a família optaram por trancar a matrícula na escola e se dedicar exclusivamente à sua recuperação psicológica.
“Ela tem feito aulas de dança, inglês e ido à missa com a avó”, conta a advogada de X., Michelle Guerra.
“Também tem feito acompanhamento psicológico e atividades lúdicas.” A adolescente que teria sido vítima de três abusos sexuais cometidos por três colegas de escola com idades de 15 a 17 anos, tem recebido o apoio da família para se restabelecer. “Num primeiro momento houve um susto, depois a família procurou orientação.”
Após o vídeo com imagens de X. fazendo sexo com colegas ser divulgado, a menina sofreu bullying na escola. “As meninas escreviam bilhetes xingando-a”, conta a advogada. Segundo ela, a família concordou em afastar X. da escola, após orientação de especialistas.
Segundo a psicoterapeuta Andreia Calçada, os danos neurológicos que X. pode enfrentar são sérios. “Ela teve sua intimidade exposta de uma forma muito hedionda, ninguém deveria passar por isso”, explica Andreia. Segundo a especialista, o papel da família é fundamental para a recuperação da menina e o apoio que eles têm dado fará toda a diferença neste momento. “Um ato como esse influencia toda a família que também precisará de apoio.”
Segundo a psicóloga, o Colégio Pedro II também deve orientar seus alunos para que casos semelhantes não se repitam. “A escola precisa trabalhar o tema e ir além de aulas convencionais”, diz.
Em nota, o Pedro II confirmou que a decisão de não renovar as matrículas dos três adolescentes suspeitos de abuso está mantida. Eles, no entanto, estão autorizados a terminar o atual ano letivo.
O Tribunal de Justiça informou que o juiz Pedro Henrique Alves, da 1ª Vara da Infância, está avaliando o caso e solicitou estudo social e psicológico dos envolvidos. Segundo o magistrado, X. não deve se afastar dos estudos, mesmo em tratamento, mas afirmou que analisará o caso.
Falta de regulamentação
Segundo Samara Schuch Bueno, advogada especialista em direito digital, o WhatsApp não entrou no Marco Civil da Internet, o que dificulta punições. De acordo com ela, se o vídeo fosse divulgado no em um site, estaria amparado pelo artigo 21 da lei 12964/2014, que afirma que vídeos de sexo devem ser retirados do ar extrajudicialmente quando os provedores forem informados por uma das partes. “Teoricamente é possível deletar todos os acessos a um vídeo no WhatsApp, mas é difícil”, diz.
Alunas fazem manifestação contra machismo
Um grupo de alunas do Colégio Pedro II aproveitou a ‘2ª Jornada da Diversidade’ realizada no Campus Engenho Novo na terça-feira para protestar contra o machismo. Cerca de 20 adolescentes da ‘Frente de Mulheres’ exibiram no pátio da unidade pinturas corporais com dizeres como: “Meu útero, respeita”. Em um vídeo divulgado no Facebook, elas exigiam o direito da mulher sobre o seu corpo.
Já na página Frente Feminista CPII SC, alunas repudiaram a posição de colegas da entidade que defenderam os alunos acusados de agredir X.. “O menino, que gravou o vídeo e que é mais velho não sabia que o que ele fez é crime por compartilhar e pornografia infantil?”, questionava uma postagem.
Tássia Di Carvalho
Acesse no site de origem: Traumatizada, aluna do Pedro II tranca matrícula (O Dia, 15/10/2015)