(O Globo, 21/10/2015) Especialista de comportamento organizacional e diversidade, americana veio ao Rio para dar workshop sobre liderança feminina na Coppead, URFJ
“Tenho 44 anos e leciono no na Universidade Lehigh, Pennsylvania, EUA. No Rio encontrei gente amigável, generosa e profissional. Adorei o verde que compõe a paisagem. E fiquei bastante impressionada com o esforço que está sendo feito aqui para levar cada vez mais mulheres a posições de destaque”
Conte algo que não sei.
Na sociedade, a gente tende a acreditar que homens e mulheres são muito mais diferentes do que realmente são. Que as diferenças são tão grandes que homem e mulher pertencem a mundos distintos. Isso torna nebulosa a forma como observamos o papel de cada um, por exemplo, no local de trabalho.
Onde estão as semelhanças?
Nós somos muito mais parecidos do que diferentes. Muitos creem que as mulheres são muito mais cuidadosas. Mas temos homens cuidadosos e mulheres mais masculinas. Existe uma grande variação. Com nossas pequenas diferenças, olhando o quadro geral, temos mais semelhanças.
Quando o mundo passou a identificar tais semelhanças?
Nos Estados Unidos da Segunda Guerra, as mulheres tiverem que assumir uma série de tarefas exercidas pelos homens. Isso mostrou que eram tão capazes quanto. Outro fato que acabou contribuindo para o aumento das mulheres em posições de comando é que, cada vez mais, se torna importante para as empresas conhecer nosso mundo. Outro ponto: nos países com envelhecimento da população, como Japão e Alemanha, é preciso garantir a força de trabalho…
O que você entende por igualdade de gênero?
Para muitos significa mulheres com acesso às mesmas chances de trabalho e promoção. Para mim, é preciso revisar os conceitos de sucesso e desempenho e definir as habilidades mais importantes. Nem sempre avaliamos o ambiente que um líder gera. Igualdade é recompensar comportamentos que são pouco levados em consideração.
Mulheres têm mais habilidade de entender o próximo?
Sim. Numa sociedade onde um grupo domina e decide, o grupo que depende dele precisa ter cuidado e dizer a coisa certa. Seguir o que o grupo dominante faz. Se o poder está associado ao homem, a mulher tende a ser muito boa para compreender o que os outros estão fazendo, sentindo ou pensando.
É a luta pela sobrevivência.
É isso que estou tentando dizer. Isto é, de alguma forma, parte da evolução da espécie.
Onde a liderança de uma mulher tende a ser lucrativa?
Onde é preciso conhecer o mundo das mulheres, como varejo e indústria de cosméticos.
O que leva a se pagar menos pelo trabalho feminino?
Existem várias explicações. Uma é que a mulher tende a parar de trabalhar por alguns anos. Para cuidar dos filhos, acaba acumulando menos experiência que os homens. Muitas empresas acham que as mulheres não precisam de tanto quanto o homem. Outra razão: homens são mais agressivos na hora de negociar salários. Pesquisas mostram que a mulher agressiva pode ser mal interpretada.
Cotas de gênero aumentam a diversidade no comando?
Depende do que você almeja. Se quer só colocar mais mulheres nestas posições, as cotas servem bem. Mas, se quer escutar suas opiniões para a tomada de decisões, são outros fatores. Na Índia, que adotou um sistema de cotas, em quatro empresas foram empregadas mães, sogras, cunhadas. Ter mulheres no comando não significa ter mais. É avaliar caso a caso.
Você consegue educar os próprios filhos sem acentuar esteriótipos?
Eu tento. Mas tenho que reconhecer que é difícil.
Roberto Maltchik
Acesse o PDF: Corinne Post, professora e pesquisadora: ‘Somos muito mais parecidos que diferentes’ (O Globo, 21/10/2015)