(Brasil Post, 23/10/2015) “Vi mulheres morrerem por causa de abortos ilegais; muitas morrem.”
Mais de 40 anos depois, o depoimento de um médico no Congresso americano é um lembrete aterrorizante dos riscos relacionados à restrição do acesso ao aborto seguro.
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Taryn Hill, editora da Fusion, desenterrou recentemente um depoimento dado em 1974 em uma investigação parlamentar a respeito da possível inclusão de uma Emenda pela Vida Humana na Constituição dos Estados Unidos.
A emenda teria essencialmente anulado a decisão histórica Roe vs. Wade, de 1973, que garante às mulheres o direito de escolha no que diz respeito ao aborto. Por sorte, a emenda não foi aprovada.
Michael Levi, obstetra e médico do Harlem Hospital, deu um depoimento angustiante sobre o que acontece quando a mulher perde esse direito de escolha.
Veja um trecho abaixo:
Nos meus anos no Harlem Hospital, antes da liberalização das leis de aborto do Estado de Nova York, vi mulheres morrerem por causa de abortos ilegais; muitas morrem.
Vi uma mulher de 21 anos morrer de uma infecção causada por um aborto criminal. Como médico, não podia reconciliar a morte dela com meu juramento de preservar vidas.
Vi uma mãe de quatro morrer, deixando seus filhos sem seu amor e sua orientação, porque ela não tinha condições de sustentar mais um filho. Seu ato de amor por seus filhos levou à sua morte, por causa de um aborto autoinduzido.
Vi uma mulher de 27 anos desesperada, ameaçando se matar, se não pudesse fazer um aborto. Isso foi em 1967, e como éramos impedidos de ajudá-la, negamos o aborto. Ela cometeu suicídio.
Por essas três mulheres e muitas, muitas outras de quem me lembro, não tenho como conciliar minha consciência e o juramento de Hipócrates com as tragédias que ocorreram.
“Antes da liberalização das leis de aborto do Estado de Nova York, vi mulheres morrerem por causa de abortos ilegais; muitas morrem”, disse Levi em seu depoimento, acrescentando depois que “19 830 000 mulheres todo ano vão morrer ou ter complicações por causa de abortos ilegais” em todo o mundo.
Considere por um momento o número de mulheres mutiladas ou que morrem anualmente por causa de abortos ilegais. Os médicos S. B. Hong, A. Lekhter, R. Amigo e T. Monreal, nas estatísticas que recolheram na Coreia, na União Soviética, no Chile e em outros países, estimam que, em média, complicações ou mortes – elas estão misturadas – são 39,6%. Essas estimativas produziriam este número, 19 830 000 mulheres a cada ano morrerão ou terão complicações por causa de abortos ilegais.
SENADOR BAYH. Mais uma vez, doutor, qual era o número?
Dr. LEVI. 19 milhões.
SENADOR BAYH. Isso nos Estados Unidos?
Dr. LEVI. Não, senhor, no mundo.
A interrupção da gravidez é um procedimento antigo e mundial. Não importa quais sejam as leis, não importa a disponibilidade de serviços, a decisão de interromper a gravidez pertence a cada mulher. Pertencia, pertence e pertencerá a cada mulher.
Atualmente, 47.000 mulheres morrem todo ano por causa de abortos inseguros, e milhões de outras têm complicações sérias. Quase todas essas mortes seriam evitáveis se as mulheres tivessem acesso seguro e legal ao aborto.
Mais para o final de seu depoimento, Levi explicou novamente a importância dos abortos legais para a segurança e o bem estar das mulheres.
“Estou comprometido com o aborto legalizado – moral, profissional e humanamente, graças às experiências antes da legalização do aborto e depois da liberalização das leis”, disse ele. “A legalização [do aborto] significa segurança, não permissividade; educação, não ignorância; dignidade, não vergonha.”
Allana Vagianos
Acesse no site de origem: Testemunho médico de 1974 mostra como o aborto é perigoso quando é ilegal (Brasil Post, 23/10/2015)