(Folha de S. Paulo, 25/10/2015) No filme “Hipóteses para o Amor e a Verdade”, dirigido por Rodolfo Vázquez e em cartaz nos cinemas, 11 personagens se cruzam no centro de São Paulo em uma noite de vertigem e solidão.
Entre eles, transexuais, figuras atreladas à prostituição na região central da cidade. No entanto, duas trans que participaram do longa representaram uma realidade que não é mais a delas.
Empregadas pela SP Escola de Teatro, na praça Roosevelt, fazem parte da parcela —ainda pequena— de transexuais e travestis que estão no mercado formal de trabalho.
A escola é uma das pioneiras a reservar uma porcentagem de suas vagas para as trans, o que acontece desde 2010. “Tínhamos uma dívida histórica”, afirma o presidente da instituição, Ivam Cabral. Quando grupos de teatro chegaram à região, em 2000, o local era reduto de transexuais e travestis, que ocupavam prédios inteiros ali. Com o aumento dos aluguéis, elas foram embora. Para Ivam, as vagas são uma forma de retribuição às antigas moradoras.
Hoje, são sete funcionárias: cinco recepcionistas, uma auxiliar administrativa e uma professora, contratada neste ano.
A maioria delas teve na escola a primeira oportunidade no mercado formal, que ainda impõe entraves para a contratação de trans. É o caso da recepcionista Renata Peron, 38. Depois de anos cantando em “casamentos, aniversários, velórios, de tudo”, queria a segurança de um salário fixo.
“Aqui é um modelo. Empresas que querem contratar trans vêm para perguntar [como funciona]”, diz Renata, que é presidente da Cais (associação de apoio a travestis e transexuais).
Marjorie Serrano, 44, também inaugurou a carteira de trabalho ali. Interna da Febem até os 17 anos, iniciou sua formação artística com Augusto Boal, fundador do Teatro do Oprimido, que alia arte a ação social. Agora, coordena grupos de atores. “Sinto-me acolhida e valorizada.”
A principal reclamação do grupo, ao falarem de experiências anteriores, é a falta de preparo dos empregadores. Preceitos simples como chamá-las pelo nome social e ter banheiros unissex disponíveis, dizem, eram ignorados.
“Gostaria que as pessoas tivessem o olhar que o Ivam [Cabral] tem e não nos vissem como objetos sexuais, mas como profissionais”, afirma Renata.
A recepcionista Andréa Zanelato, 33, intervém: “A sociedade nos busca nos bastidores, para realizar fantasias, e na hora de empregar não tem coragem.” Mas as coisas parecem estar mudando. “Há 20 anos, não tínhamos voz nem vez, hoje não aceitamos dizerem que não temos direitos”, afirma Renata, apoiada pelas outras, que a cercam.
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A dupla Daniella Zylbersztajn e Mari Rossi vai levar o YogaLive ao Mirante 9 de Julho pela primeira vez. Na terça (27), às 19h30, interessados poderão praticar yoga ao som de um eletrônico jazzy comandado por Rossi e pela baixista Aimê Uehara. Quem não tiver colchãozinho próprio pode pegar emprestado. Para garantir uma das 25 vagas é preciso retirar senha uma hora antes.
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A rede Maremonti, especializada em comida italiana, inaugurou uma nova unidade na Riviera de São Lourenço, em Bertioga (SP). Dentro da casa, que tem mais de 130 metros de vidraças para emoldurar o cenário tropical, a visão do mar é de 180º. O restaurante fica no largo dos Coqueiros e já está funcionando.
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155.867 crianças estavam na fila à espera de uma vaga na creche e na pré-escola na cidade de São Paulo, até setembro, segundo a Secretaria Municipal de Educação.
Ingrid Fagundez
Acesse o PDF: Travestis e transexuais voltam ao centro para trabalhar em escola teatral (Folha de S. Paulo, 25/10/2015)