Acnur denuncia abusos sexuais a mulheres e crianças refugiadas

24 de outubro, 2015

(O Globo, 24/10/2015) Violações ocorrem em países como Itália, Grécia, Hungria, entre outros, diz agência da ONU

Na difícil jornada em busca de uma vida melhor na Europa, os imigrantes enfrentam frio, medo, fome, cansaço e também são explorados sexualmente, denuncia o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). A agência da ONU afirmou na sexta-feira que tem recebido “denúncia horríveis” de abusos a mulheres e crianças por parte dos traficantes e declarou que vai realizar uma investigação exaustiva sobre elas, junto com outras organizações.

Menina posa para foto enquanto refugiados esperam para atravessar fronteira entre Croácia e Eslovênia (Foto: Jure Makovec / AFP)

— Temos escutado denúncias horríveis de crianças obrigadas a manter relações sexuais com os traficantes para pagarem a viagem — declarou a porta-voz da Acnur, Melissa Fleming.

O que mais preocupa o Acnur é que esses relatos sejam apenas a ponta do iceberg do problema, pois muitas pessoas não teriam coragem de falar sobre os abusos já que a maioria vem de um contexto cultural e religioso conservador. Os refugiados que chegam à Europa estão fugindo da guerra e perseguição em países do Oriente Médio e África, sendo grande parte deles da Síria.

— Em alguns casos, inclusive, eles se veem obrigados a recorrer à prostituição para sobreviver, porque teve roubado seu dinheiro ou já não tem nada e são pressionados pelas máfias a pagar as dívidas e seguir viagem — disse ao jornal espanhol “El Mundo” María Jesús Vega, porta-voz da agência no país.

Meninos refugiados descansam em trilho de trem na fronteira entre Áustria e Eslovênia (Foto: Vladimir Simicek/AFP)

 

Segundo o Acnur, as violações ocorrem em todos os países de trânsito, como Itália, Grécia, Macedônia, Sérbia, Hungria o Eslováquia, pelos quais os refugiados passam até chegar a seus destinos, países ricos do Norte da Europa como Alemanha e Áustria. A organização aponta também que os abusos ficam impunem diante do caos nas fronteiras europeias e da má gestão como as autoridades estão lidando com a crise migratória.

As mulheres e crianças representar 34% das mais de 640 mil pessoas que chegaram pelo Mediterrâneo na Europa, sem contar que muitos menores chegam desacompanhados. Segundo Melissa, esse grupo se convertem em “presas fáceis” dos contrabandistas ou até mesmo de outros imigrantes ou refugiados. Diante disso, a Acnur exige que os governos europeus que adotem medidas para garantir a proteção dos menores e uma recepção adequada.

POLÊMICA NOS BALCÃS

Enquanto isso, os países da UE ainda não mostram sinais de uma resposta conjunta à crise. Bulgária, Sérvia e Romênia disseram neste sábado que fechariam suas fronteiras se a Alemanha e outros países fizerem o mesmo para impedir a entrada de refugiados, alertando que não permitiriam que a região dos Bálcãs se tornasse uma zona neutra para imigrantes sem recursos. O primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borisov, anunciou a decisão após se encontrar com seus equivalentes da Sérvia e da Romênia na capital Sofia, às vésperas de um encontro de líderes da União Europeia, no domingo.

A posição é um indicativo das divisões que foram abertas entre estados da União Europeia sobre a melhor maneira de lidar com o fluxo de centenas de milhares de imigrantes, muitos fugindo de conflitos na Síria, no Iraque e no Afeganistão.

— Os três países, nós estamos ficando prontos, se a Alemanha e a Áustria fecharem suas fronteiras, não permitiremos que nossos países se tornem zonas neutras. Estaremos prontos para fechar nossas fronteiras — disse Borisov.

O primeiro-ministro romeno, Victor Pont, disse que essa seria a posição consensual dos três países na reunião extraordinária dos líderes europeus, no domingo, para enfrentar a crise de imigração nos Bálcãs ocidentais. Milhares de pessoas que tentam chegar à Alemanha já estão presos na região em condições degradantes.

Acesse o PDF: Acnur denuncia abusos sexuais a mulheres e crianças refugiadas (O Globo, 24/10/2015)

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