(Terra, 11/11/2015) Estudantes pedem por aulas sobre feminismo, fotografia e até mágica e surfe
Jéssica Rodrigues de Borba, 16, queria debater machismo e racismo na escola estadual onde estuda, no extremo sul de São Paulo, mas não encontrava espaço. “Isso nunca é passado em sala de aula”, diz a adolescente à BBC Brasil. “Sobre o racismo aprendemos só o básico. De machismo, nada. E é algo importante, todo mundo tem de estar ciente.”
Até que, no final de outubro, ela conseguiu que palestrantes especializados fossem a sua escola dar uma aula extracurricular sobre os dois temas, assistida por 170 de seus colegas estudantes. “Agora vou pedir uma palestra sobre maioridade penal”, diz Jéssica. “É um assunto de que os professores fogem.”
O pedido de Jéssica foi concretizado pelo Quero na Escola , projeto idealizado por quatro jornalistas para tentar aproximar a escola pública da sociedade.
Pelo site, alunos da rede pública de todo o país podem cadastrar sua escola e pedir que aulas gostariam de ter fora do currículo escolar.
Um aluno da rede pública paulista pediu aula de truques de mágica. Outro, de Florianópolis, quer fazer aulas de surfe. Em uma escola municipal de Belo Horizonte, o pedido é por aprender a fazer histórias em quadrinhos.
A ideia é que os pedidos sejam atendidos por voluntários da sociedade civil, que topem dar aulas gratuitas nas escolas sobre os temas solicitados.
“Querem um monte de coisas”
Em dois meses de existência, o Quero na Escola cadastrou 11 escolas (por enquanto, em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina) e recebeu 65 pedidos. Foram cadastrados 32 voluntários, que por enquanto atenderam à primeira dezena de pedidos – abrangendo cerca de 300 alunos com aulas, palestras ou oficinas em temas como grafite, artesanato, contação de histórias e fotografia.
“Entrevistando os adolescentes nas escolas, víamos que eles queriam um monte de coisas, apesar de serem tachados como desinteressados”, diz Cinthia Rodrigues, uma das idealizadoras do projeto.
“O gatilho para nós foi ouvir de uma jovem de 15 anos que ela gostaria de fazer aula de escrita criativa. Como jornalistas, podíamos ensinar isso para ela. E pensamos: ‘e se tivesse uma forma de todos os alunos dizerem o que querem na escola?'”
Acesse no site de origem: Surfe e feminismo: projeto leva ‘aula dos sonhos’ a alunos (Terra, 11/11/2015)