Presença do deputado Eduardo Cunha foi repudiada pelas mulheres presentes à sessão
(Luciana Araújo/Agência Patrícia Galvão, 18/11/2015) Uma Comissão Geral – sessão plenária regimental para debate de assunto relevante ou com presença de ministro de Estado e aberta à participação de cidadãos – com a temática ‘a realidade das mulheres negras brasileiras’ aconteceu na tarde desta terça-feira (17) no plenário da Câmara. Organizada pela Bancada Feminina e presidida pela parlamentar fluminense Benedita da Silva (PT), a atividade é parte do calendário da Marcha das Mulheres Negras.
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A Marcha ocupa nesta quarta a capital federal com mulheres de todas as regiões do país. Quilombolas, mulheres de terreiro e outras religiões, estudantes, sindicalistas, trabalhadoras domésticas e de diversas outras categorias, militantes partidárias, feministas, que desde 2011 constroem a primeira manifestação nacional protagonizada pelas negras brasileiras, cobrarão amanhã à presidenta Dilma Rousseff mais investimentos na efetivação da cidadania da população negra e contra a violência e o racismo.
Contra o racismo e a violência
Presente à sessão, a ministra de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, destacou que “a violência que assombra a todas nós mulheres assombra muito mais a nós mulheres negras”. Comentando os dados recentemente divulgados sobre o crescimento em 54% dos assassinatos de mulheres negras, Nilma lembrou que para o movimento negro essa estatística não é uma novidade, “porque vivemos essa realidade”. “A relação casa grande e senzala vai se reestruturando, mesmo com a abolição e a República, porque não enfrentamos a questão estrutural do racismo”, ressaltou.
A médica Jurema Werneck, coordenadora da ONG Criola e representante do comitê nacional de organização da Marcha, apontou: “Somos aquelas que a maioria dos brasileiros viu de perto, mas ignorou”. E prosseguiu lembrando que “a Nação brasileira não pode dar um passo adiante se não enfrentar o racismo e a violência”. Jurema ainda falou sobre o retrocesso conservador no Congresso Brasileiro, “que age contra nós quando avança contra a conquista constitucional do Estado laico, quando fomenta, a partir de atos, palavras e legislações aprovadas, o ódio, o preconceito, a violência, a intolerância religiosa. Este Congresso Nacional conservador e retrógrado que tem sido fonte das injustiças e violências contra os quais marchamos”.
O genocídio da juventude e das mulheres negras foi destacado por Juscelene Carvalho, representante do Círculo Palmarino. Emocionada, ela lembrou que “as mães que sofrem somos nós, mulheres negras, que parimos com tanta dificuldade, sofremos racismo no hospital, e quando vemos nossos filhos assassinados e o Estado não tomar providências dilacera nossos corações”. A PEC 215, que ameaça territórios indígenas e quilombolas também foi criticada por ela, que vive em Belém do Pará.
Fora Cunha
Diversos parlamentares parceiros da luta feminista e antirracista falaram no plenário, onde também fizeram discurso líderes de bancadas, incluindo representantes da chamada bancada da bíblia. A diretora da ONU Mulheres para a América Latina e Caribe, Lúcia Carvalho, e a representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, também estiveram presentes.
Ao entrar no plenário, o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), patrocinador do projeto da redução da maioridade penal e autor do PL que dificulta às mulheres vítimas de estupro o acesso ao aborto legal, irritou as representantes dos movimentos sociais negros e antirracistas presentes. As mulheres se retiraram do plenário aos gritos de “Fora Cunha!”. O chefe do Legislativo, implicado na operação Lava Jato após a descoberta de várias contas não declaradas em paraísos fiscais, chegou a determinar que a polícia legislativa retirasse as mulheres do local. Do lado de fora, as mulheres realizaram novo ato, no Salão Verde.
Confira aqui os vídeos da Comissão Geral disponibilizados pela TV Câmara.