(El País, 25/11/2015) Embora passos muito importantes tenham sido dados nas últimas décadas para diminuir a fome no mundo, ainda existe um grupo de excluídos que foi deixado para trás. Nos países em desenvolvimento, é cada vez menor o número de crianças desnutridas, e, em muitos casos, o sobrepeso e a obesidade passaram a ser um novo problema de saúde pública. No entanto, enquanto esses países vão saindo do buraco da fome, a proporção de adultos em situação de desnutrição grave se mantém estável, como mostra o primeiro estudo voltado para a quantificação da magreza extrema em 60 países de renda baixa e média que representam mais de 3 bilhões de pessoas.
Concretamente, são mais de 18 milhões de mulheres que estariam nessa situação de desnutrição grave, a qual provoca sérios problemas de saúde, como maior exposição a infecções e doenças em geral, e com maior risco de morrer do que as pessoas de peso normal, o mesmo acontecendo com seus bebês. Os dados sobre essas mulheres desnutridas, em torno de 2% nesses países, indicam que elas são ao mesmo tempo extremamente pobres e com educação precária, segundo o trabalho, divulgado pelo JAMA.
A primeira conclusão dos autores da pesquisa, das universidades de Toronto e Harvard, é que a desnutrição severa ainda é comum, superando 6% das mulheres na Índia, e entre 2% e 4% em países como Bangladesh, Madagascar, Timor Oriental, Senegal e Serra Leoa. Países como Albânia, Bolívia, Egito, Peru, Suazilândia e Turquia registram taxas inferiores a 0,1%. A fome ainda atinge 800 milhões de pessoas no mundo, e essas mulheres seriam o grupo mais afetado dessa população com dificuldade de acesso a alimentos.
“Os níveis não melhoraram na maioria dos países durante as últimas duas décadas”, destaca Fahad Razak, principal autor do estudo, como sendo a segunda conclusão preocupante do estudo: há um grupo abandonado dentro dos países em desenvolvimento ao qual não chegam os avanços obtidos por seus países e que continua passando fome. “Os dirigentes políticos e os governos devem priorizar também as necessidades desse grupo”, defende o pesquisador.
“A maioria desses países estão, em média, mais ricos. E o índice de massa corporal médio aumentou, assim como a obesidade. Mas, na maioria desses países a desnutrição severa não está melhorando, pois se trata de uma população que foi deixada para trás”, resume Razak, pesquisador da Universidade de Toronto e do Centro de Estudos de População e Desenvolvimento da Universidade Harvard.
O estudo enfocou a quantificação das mulheres que apresentavam um índice de massa corporal inferior a 16, proposto pelas Nações Unidas, em 1998, como um método eficaz para quantificar a presença da desnutrição crônica grave em uma população. O estudo priorizou as mulheres por não haver uma grande base de dados significativa sobre os homens nesses 60 países: “Temos dados sobre os homens em 13 países, e os níveis são quase idênticos aos das mulheres. Isso sugere que o problema tem provavelmente a mesma importância entre a população masculina do mundo”, afirma Razak.
Javier Salas
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