(Agência USP) Estudo realizado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo indica que a baixa participação da população negra nas programações e propagandas veiculadas na mídia brasileira pode resultar em menores oportunidades de trabalho, além de alimentar um preconceito racial velado no país.
Para Osmar Teixeira Gaspar, responsável pelo trabalho, “ter visibilidade acarreta algumas possibilidades ao longo da vida e a falta dela também pode criar um ideário popular de que determinadas funções devem ser ocupadas por determinados estereótipos”.
Por meio da análise das telenovelas das emissoras Globo, SBT e Record, no período de 2005 a 2010, e de revistas impressas, o estudo de mestrado desenvolvido por Gaspar busca traçar como esse conteúdo reflete no mercado de trabalho. “Você raramente vê algum médico ou cientista negro nas telenovelas, isso faz um garoto negro pensar que, devido à sua cor, jamais poderá participar daquele universo branco e exercer aquelas funções. Esta censura midiática desperdiça e marginaliza talentos”, afirma o pesquisador.
O estudo examinou algumas revistas impressas –como Elle, Sou+Eu, Manequim, Claudia, Vogue Brasil e TPM, entre outras– e concluiu que as mulheres brancas aparecem nessas publicações 94,08% das vezes, contra apenas 6,081% das mulheres negras. Para o pesquisador, isso é um dos exemplos de como a ausência ou a discriminação da população negra nos veículos de massa refletem nas oportunidades profissionais. “As agências publicitárias pouco fazem uso de modelos afrodescendentes, o que não é justificável, pois as classes C e D do Brasil, onde se encontram a maioria da população negra, são um grande mercado consumidor”, diz Gaspar.
Para o pesquisador, é necessário que o Estado implemente políticas públicas para democratização e garantia do acesso e inserção da população negra na mídia, de forma proporcional à sua representatividade na sociedade brasileira. “Entendo que a televisão comercial deve ser lucrativa, mas por outro lado, não se pode desvalorizar o ser humano. A TV deve e pode investir em uma grade de programação plural que aborde diversos aspectos culturais do Brasil e das etnias que compõem nossa sociedade”, conclui Gaspar.
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Leia na íntegra: Meios de comunicação do país ainda não incorporaram negros (Agência USP – 06/01/2011)