(Agência Brasil, 08/03/2016) A legalização do aborto foi o tema central do ato que marcou o Dia Internacional da Mulher, na tarde de hoje (8), no Rio de Janeiro. Com balões lilases e muitos cartazes, mulheres – e também homens – se reuniram em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e depois caminharam até à Cinelândia, local tradicional de lutas e reivindicações no centro da capital fluminense.
Para a militante e professora de história Bárbara Araújo, 26 anos, a questão do aborto deve ser encarada como questão de saúde pública. “É uma prática que mata mulheres com frequência por ser proibida, principalmente mulheres pobres e negras. Somos donas do nosso próprio corpo, essa questão, na verdade, é bastante simples”, disse, ao enfatizar a importância de ir para as ruas reivindicar direitos. “O motivo para comemorar, hoje, é o fato de continuarmos na batalha, a luta está crescendo, cada vez mais jovens engajadas, mas infelizmente ser.mulher não é muito agradável no nosso país”.
A professora da educação infantil Shirley Rodrigues de Oliveira, 39 anos, levou as filhas Isabela, 7 anos, e Nicolas, 9 anos. “Sempre trago as meninas, pois vivemos em um mundo machista e elas têm que estar na luta desde cedo”, afirmou. “Sou negra, saí da roça, fui empregada doméstica para pagar a faculdade. A mulher negra não tem alternativa a não ser lutar, estou aqui por elas, para garantir que nossa luta continue com elas, e que não se permitam aprisionar pelo patriarcado”.
O estudante de direito Antônio Rodrigues, 24 anos, acompanhava a irmã no ato. “Acho fundamental os homens darem apoio à luta das mulheres. Tem muita coisa errada, mulher ganhando menos que homem por ser mulher, sem cargos de liderança por causa do machismo”, comentou ele, que também defende a legalização do aborto. “O corpo é da mulher e ela deve fazer o que bem entende e, além disso, é uma questão de saúde pública, porque causa a morte de muitas mulheres”, completou.
Palavras de ordem e discursos criticaram projetos de lei e propostas dentro do Congresso Nacional para dificultar o aborto de mulheres grávidas vítimas de violência ou com bebês com microcefalia.
“Proibir o aborto, é legitimar o assassinato de mulheres negras e pobres”, disse a dentista Rosa Silveira. “Mais de um milhão de abortos são feitos por ano no país e uma mulher morre por dia, segundo estudos feitos por organizações que trabalham com o tema. E a maioria dessas mulheres é negra e pobre”.
O ato também homenageou a moradora da Vila Autódromo, em Jacarépagua, Dona Penha, que teve a casa demolida hoje e participou da marcha. “Hoje estou desabrigada, mas acredito que podemos ter um país melhor, porque hoje nossos governantes não governam verdadeiramente para o povo, não temos liberdade. E hoje, no dia da mulher, é um dia de luta por esse país melhor”, destacou.
Violência de gênero no Rio de Janeiro
A violência contra as mulheres e o feminicidio também foram temas denunciados durante o ato. Participantes pediram mais recursos para garantir politicas de apoio às mulheres vítimas da violência. Somente no Rio, a Justiça registrou cerca de 7,5 mil processos de lesão corporal decorrentes de violência doméstica. A segunda ação penal mais recorrente é a ameaça à muher, com 6,4 mil processos.
Tramitam atualmente na Justiça estadual mais de 138 mil processos de violência de gênero. Somente em janeiro e fevereiro deste ano foram ajuizadas 20 mil ações.
Apenas em janeiro, foram realizadas 84 prisões e proferidas 544 sentenças de mérito. No total do ano passado, foram registradas 1.208 prisões e 6.907 sentenças.
Flávia Villela; Edição: Maria Claudia
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