(UOL, 23/03/2016) Com o surto de microcefalia (má-formação do cérebro) em bebês, provocado pelo zika vírus, as grávidas ganharam mais um motivo para se preocupar e redobrar os cuidados durante a gestação. Como é o Aedes aegypti que transmite o vírus, há a preocupação de erradicar e repelir o inseto. Pensando nessa necessidade, a marca Megadose lançou uma coleção de roupas com citronela para gestantes para afastar o mosquito, que também transmite dengue. No entanto, segundo especialistas ouvidos pelo UOL, esse tipo de repelente natural não é o mais eficaz.
Segundo Adilson Westheimer Cavalcante, presidente do Departamento Científico de Infectologia da APM (Associação Paulista de Medicina), a citronela é utilizada como medida para espantar mosquitos em ambientes fechados.
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“A substância tem capacidade de afastar o Aedes, mas é pouco eficaz no tamanho da proteção. Quando você acende uma vela de citronela, por exemplo, o raio de ação é muito pequeno, e o tempo de proteção também”, afirma o infectologista Ralcyon Teixeira, supervisor do pronto-socorro do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo.
A roupa com repelente não é novidade no mercado. Segundo Teixeira, já existem peças impregnadas com permetrina, substância repelente “prima” da icaridina, a mais indicada contra o Aedes. “Aqui no Brasil não encontramos essas peças para vender, mas, no exterior, elas são usadas por membros do exército e viajantes. Estudos comprovam que essa substância impregnada é capaz de repelir mosquitos. Já a roupa de citronela ainda precisa passar por muitos testes de eficácia, pois o repelente natural tem baixa eficácia”, explica.
Questionada sobre testes científicos que comprovem a eficácia do produto, a Megadose encaminhou ao UOL dois laudos: um comprovando que a citronela estava impregnada no tecido das peças e o outro, elaborado pela AXTIV3 Soluções e Inovações, mostrando que a peça repeliu, em média, 60% dos mosquitos.
Para chegar ao resultado da repelência, os cientistas colocaram 50 fêmeas de mosquitos Aedes aegypti dentro de uma câmara. Depois, inseriram uma mão limpa e sem odor por cinco minutos para, na sequência, colocar uma mão com uma luva feita com o tecido com citronela, também por cinco minutos.
De acordo com os especialistas ouvidos pelo UOL, no entanto, o estudo é frágil. “É fraco do ponto de vista estatístico, pois foram feitas apenas três tentativas, três amostras diferentes e três chances da picada ser repelida. O tempo em que o tecido foi exposto também foi mínimo”, declara Teixeira. “Além disso, eles testaram a peça com uma mão totalmente exposta. Não houve um grupo controle de uma luva com tecido comum, por exemplo, pois deixar a pele coberta por si só já é um fator de proteção”, afirma Cavalcante.
Os dois especialistas não indicariam a peça para quem busca medidas para se proteger contra a picada do mosquito Aedes aegypti. “Ainda são necessários vários estudos para que o fabricante garanta a proteção da substância usada, da durabilidade desse repelente no tecido, quantidades de lavagens permitidas, entre outras características”, afirma Cavalcante.
O que funciona
Eles reconhecem que, atualmente, os repelentes mais eficazes para as gestantes são à base de icaridina. “Eles duram de oito a dez horas na pele, portanto, a gestante precisa passar menos ao longo do dia”, afirma Teixeira.
Outra opção são os produtos com DEET na fórmula, que também são seguros, porém têm durabilidade menor. “Como a concentração dos repelentes com essa substância é mais baixa, é preciso repassar depois de duas a três horas, para ter uma boa cobertura”, fala Cavalcante.
Para quem vai viajar ou mora em uma região mais afetada pelo Aedes, Teixeira recomenda espirrar o repelente na própria roupa para reforçar a proteção. “Também indicamos usar roupas claras, para ficar mais fácil enxergar o mosquito, longas e compridas, para diminuir a área de exposição, além de evitar peças justas, para não facilitar o contato do mosquito com a pele (já que ele pode picar mesmo através do tecido)”, fala o infectologista do Hospital Emílio Ribas.
Também é importante que o repelente seja o último produto a ser passado no corpo. “Cremes hidratantes, protetor solar, tudo isso vem antes do repelente. O item deve ser sempre o último para ter um maior contato externo e garantir mais efeito”, afirma Teixeira.
As gestantes também devem cuidar da proteção do ambiente em que ficam. O ideal é que permaneçam em locais com tela ou que sejam resfriados com ar-condicionado ou ventilador, condições que costumam afastar os insetos.
Tamires Andrade
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