(Uol, 28/03/2016) A exposição de grávidas ao vírus da zika é a que mais preocupa pela relação do vírus com lesões neurológicas nos fetos.
O nascimento de crianças com microcefalia no Sudeste do Brasil já é uma grande preocupação de médicos e do governo com o aumento de casos suspeitos de infecção por vírus da zika na região. Somados, os quatro Estados registraram cerca de 6.500 casos suspeitos de zika até agora.
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Rio tem 331 grávidas com Zika e 306 notificações de microcefalia (Agência Brasil, 24/03/2016)
Em São Paulo, há ao menos 37 casos de crianças com microcefalia com características de associação ao vírus e 900 grávidas com suspeita de zika. No Rio de Janeiro, nove casos de má-formação no sistema nervoso de bebês foram confirmados; no Espírito Santo, há outros quatro casos confirmados; e em Minas Gerais, mais dois.
O pico de contágio em São Paulo e Rio de Janeiro, porém, ainda é esperado para abril e maio, épocas de elevação histórica da dengue, também transmitida pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes Aegypti. No Espírito Santo, espera-se o pico para este mês.
“A impressão que eu tenho é que nós estamos tendo uma epidemia de zika aqui no Sudeste. A magnitude dela eu não sei. A gente vai ter que esperar um pouco a disponibilização dos exames sorológicos para poder definir mais”
Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses
O aumento de casos no Sudeste preocupa pois a região concentra 42% da população brasileira, o que poderia multiplicar os casos de microcefalia no país. O Ministério da Saúde já alertou para a expansão da epidemia em outras regiões do país. “Estamos prevendo uma expansão [do surto de zika e dos casos de microcefalia] nas regiões Sudeste e Centro-Oeste”, explicou Claudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do ministério.
Uma pesquisa da Fiocruz estima que o percentual de fetos com lesões neurológicas entre grávidas diagnosticadas com zika pode chegar a 29% — no entanto, o número ainda é controverso. Um estudo restrospectivo feito na Polinésia Francesa apontou que a proporção seria de 1 para 100.
Se o combate ao mosquito Aedes aegypti –ou novos remédios– não impedirem a epidemia de zika de se alastrar em áreas mais populosas do Brasil, Timerman estima que possam nascer de 50 mil a 70 mil crianças com lesões neurológicas ou microcefalia até 2020. O Ministério da Saúde, questionado sobre previsões, informou que não faz ou comenta projeções.
Até o momento, o país tem 907 casos de microcefalia confirmados e mais de 4.200 em investigação. A OMS calcula que o número de casos confirmados deve chegar a 2.500 ainda este ano.
Sabe-se, até o momento, que o vírus da zika circula em 22 Estados e no Distrito Federal.
Dificuldade para diagnosticar o vírus
Timerman explica que o grande problema é diagnosticar a zika. A primeira dificuldade é que o teste disponível até o momento só funciona se aplicado na fase aguda da doença –e só a menor parte dos infectados apresentam sintomas– e a segunda, mais grave, é que os convênios não pagam pelo exame genético de PCR, que é caro, e, na rede pública, não há testes suficientes nem mesmo para diagnosticar dengue.
“Sem dúvida, é preocupação baseada em evidência. No meu hospital, estou esperando 9 resultados de exame de zika de pessoas que têm muita possibilidade de ter zika”.
“O Brasil não tinha uma infraestrutura laboratorial para atender a essa demanda. Tem uns três ou quatro (laboratórios) que centralizaram os exames do Brasil inteiro” , diz Ricardo de Oliveira, secretário de Saúde do Espírito Santo. “Não é só Espírito Santo que está mandando para a Fiocruz, vários Estados estão mandando. Por isso que a confirmação demora”.
Até o momento, pouco mais de 20 laboratórios foram capacitados pelo Ministério da Saúde para realizar o exame genético (conhecido como PCR).
Oliveira destaca que, no Espírito Santo, as notificações de casos de dengue em 2016 já são dez vezes maiores do que em 2015. “Por trás disso, está uma proliferação muito grande de mosquito”. Lá, são 2.642 os casos de suspeita de zika desde novembro até o dia 10 de março, e 90 bebês (a maioria ainda não nascidos) com suspeita de microcefalia.
Alexandre Chieppe, subsecretário de Vigilância em Saúde do Estado do Rio de Janeiro, aponta que a maioria dos bebês de mães infectadas por zika que estão acompanhadas pela rede pública vai nascer em março e abril, quando devem começar os testes para microcefalia e associação à infecção.
“A gente já vem observando aqui no Rio um aumento do número de casos, é processo de investigação epidemiológica complexo, demorado. Há uma preocupação [com os casos de lesões neurológicas em fetos], por conta disso todas nossas campanhas estão muito focadas para gestantes”
Alexandre Chieppe, da secretaria de Saúde do Rio de Janeiro
No entanto, ele informa que nas últimas semanas houve uma redução do número de notificação de casos de infecção por zika em mulheres grávidas, apesar de uma expectativa contrária a isso. “Uma possibilidade é que haja maior prevenção individual das gestantes”.
Paula Moura
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