(Marie Claire, 29/03/2016) O violento processo de esmagar, cortar e bater nos seios com objetos quentes tem como função mutilar meninas para que pareçam menos femininas. Segundo a ONU, prática atinge 3,8 milhões de mulheres no mundo
“Breast ironing” (algo como passar os seios a ferro, em inglês) – uma prática abusiva de “achatar” os seios de meninas com o corpo em desenvolvimento para “protegê-las” do estupro e do assédio sexual – hoje afeta 3,8 milhões de mulheres pelo mundo. É o que aponta relatório divulgado pela ONU. O violento processo de esmagar, cortar e bater nos seios com objetos quentes tem como função mutilar meninas para que pareçam menos femininas. O abuso, executado há centenas de anos, é comum em países africanos, como Camarões, Nigéria e África do Sul. Mas, assim como a mutilação genital, o “breast ironing” é um abuso velado que também ocorre em comunidades fora do continente africano. O Reino Unido é um exemplo, pontua a Marie Claire britânica.
Esta mutilação costuma atingir meninas entre oito e 14 anos. Os pais justificam o ato como uma maneira de preservarem a pureza das filhas para o casamento. Em alguns casos, eles chegam a dizer que estão protegendo as meninas de estupradores, pois acreditam que homens não são capazes de controlar o próprio desejo. Um dos dados mais tristes sobre a prática é que, em 58% dos casos, a mãe é quem comete o abuso, pois ela acredita que remover os sinais da puberdade é a maneira de permitir que a filha tenha uma educação mais duradoura, em vez de ser vista como “pronta para casar”. Isso a partir dos oito ou nove anos…
Assim, o “breast ironing” se mostra como mais uma forma de controlar a sexualidade da mulher, enquanto palavras como “tradição” e “religião” são atreladas a este tipo de tortura. Tortura com traumas duradouros. Muitas meninas sofrem com infecções, escaras e abscessos. Ainda podem desenvolver câncer e até remover um ou os dois seios. Isso sem contar o trauma psicológico. Em matéria para a CNN, uma mãe camaronesa reforça que só fez isso com a filha para afastar os abusadores, mesmo com o risco de machucá-la, como aconteceu.
Margaret Nyuydzewira, fundadora da CAME Organização pelo Desenvolvimento de Mulheres e Meninas, ONG britânica que trabalha em defesa das vítimas, falou à publicação “The New Day” sobre a complexidade em torno da prática. “É brutal. Tem muito trauma. As mães fazem isso com boas intenções, querem proteger as filhas do abuso sexual, mas isso não se encaixa nos nossos valores. As mulheres precisam entender que o que estão fazendo é nocivo para as suas crianças e isso pode ter um grande impacto a longo prazo”, diz Margaret. A fundadora da organização ainda destaca: “Eu não posso caminhar sozinha. Precisamos do apoio do governo. Precisamos fazer a notícia correr o mundo.”
Enquanto a mutilação genital feminina é assunto recorrente em campanhas internacionais, no mundo todo ainda existem muitas formas de violência contra as mulheres. No Reino Unido, por exemplo, até agora não houve nenhuma pena relacionada ao “breast ironing”. Mas, neste mês, o parlamentar inglês Jake Berry revelou o seu choque em relação à prática e à “ritualização do abuso infantil”. Durante uma sessão do parlamento britânico, Berry exigiu ações de efeito para dar mais atenção à violência e condenar os envolvidos. “As palavras ‘cultura’, ‘tradição’ e ‘religião’ podem surgir ao tentar explicar esta prática absurdamente nociva, mas, como no caso da mutilação genital feminina, essas palavras são desculpas veladas para uma forma ritualizada de abuso infantil’, afirmou o parlamentar.
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