(Folha de S.Paulo, 02/04/2016) Em apenas dois meses, o total de municípios no país com circulação confirmada do vírus chikungunya, conhecido como doença “prima” da dengue, cresceu 78% e a tendência é de avanço, segundo o Ministério da Saúde.
Os dados mostram como a doença, que há cerca de um ano era considerada de maior controle se comparada às outras infecções transmitidas pelo Aedes aegypti, tem começado a avançar com maior rapidez nos últimos meses.
Detectada em 2014, a chikungunya gerou alerta devido ao quadro de dores articulares que provoca nos pacientes. “No entanto, a infestação foi lenta”, diz o diretor de doenças transmissíveis do ministério, Cláudio Maierovitch.
Agora, o cenário é outro. “Aparentemente, está acontecendo neste ano o que esperávamos que fosse ocorrer naquele ano”, afirma. Só nos dois primeiros meses de 2016, já são 153 municípios com circulação confirmada de chikungunya, distribuídos em 18 Estados.
Até o fim do ano passado, essa confirmação ocorria em 86 municípios de 13 Estados. De lá para cá, houve novos casos em São Paulo, Minas, Paraná, Ceará e Maranhão. Na prática, enquanto no início a chikungunya atingiu um grande número de pacientes em poucos lugares, agora ela já avança para capitais e mais cidades do país.
Em 2015, até a primeira semana de março, eram 2.103 casos autóctones notificados –localizados, no entanto, em apenas cinco municípios. Já neste ano, o número até o fim de fevereiro era de 3.748.
“Não estamos mais falando só de Feira de Santana [município que concentrou os primeiros casos], mas também de Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Rio”, afirma o diretor.
O número de casos pode ser ainda maior, já que alguns Estados e municípios demoram a notificar os dados ao governo federal. O balanço também não considera os chamados “casos importados” –quando um paciente adquiriu a doença após uma viagem a outro Estado.
No Recife, o primeiro caso local foi confirmado em julho do ano passado. Neste ano, já são 2.632 registros, sendo 385 confirmados e os demais ainda em investigação.
A situação é ainda mais grave devido ao contexto de epidemia tríplice, com alerta também para zika e dengue. “A zika persiste como preocupação. Mas o que está superlotando os serviços de emergência são os casos de chikungunya”, diz o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia.
Para o médico Leonardo Weissmann, da Sociedade Brasileira de Infectologia, parte da expansão também pode estar relacionada a uma maior atenção para a doença nos serviços de saúde.
“No ano passado [o vírus] chikungunya era um ilustre desconhecido. Agora há uma maior observação”, diz.
MAIS DUAS MORTES
O Ministério da Saúde confirmou mais duas novas mortes no país relacionadas ao vírus chikungunya. Agora, chega a cinco o número de mortes pela doença. Até então, a pasta já havia confirmado, em janeiro, apenas três outros registros de morte por chikungunya –dois na Bahia e um em Sergipe.
Os dois novos casos ocorreram em Pernambuco. Em um dos casos, a paciente era uma idosa, de 88 anos, que foi internada em janeiro na UTI de um hospital particular. O segundo caso, no entanto, tem chamado a atenção pelo fato de a vítima ser mais jovem (54 anos) e por não apresentar registro de doenças relacionadas.
Até então, todas as mortes ocorridas no país eram de idosos entre 70 e 90 anos e com registro de doenças crônicas.
“É um caso intrigante por não ter evidências de comorbidades. Mas como são números pequenos, não podemos partir para uma conclusão precipitada no sentido de uma mudança de padrão”, diz o secretário de saúde do Recife, Jailson Correia.
Segundo o diretor de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, uma equipe do Ministério da Saúde deve ir a Pernambuco para dar apoio ao Estado na investigação das mortes e do aumento de casos.
Há ainda outras mortes em investigação no país. Na Paraíba, a secretaria analisa a suspeita de mortes. Os pacientes –uma criança de 5 anos, uma mulher de 51 anos e um homem de 65– foram atendidos no Hospital de Trauma, em Campina Grande, e tiveram resultados positivos para o vírus em exames preliminares. As investigações devem durar até 60 dias.
Natália Cancian
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