Pesquisadores estudam medicamentos para serem usados por grávidas com zika

11 de abril, 2016

(O Globo, 11/04/2016) Grupo publicou na revista ‘Science’ estudo que correlaciona vírus à ocorrência de microcefalia.

Responsável pelo estudo publicado na revista americana “Science” que relaciona o Zika vírus à ocorrência de microcefalia, uma equipe de pesquisadores do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da UFRJ testa no momento dez medicamentos já existentes para serem usados por grávidas infectadas. Um dos medicamentos, afirma o neurocientista Stevens Rehen, que lidera o grupo, já apresenta resultados promissores na proteção do tecido nervoso contra o ataque do vírus.

A pesquisa vem sendo feita com o uso de minicérebros criados em laboratório, que simulam o cérebro fetal (exatamente a formação do córtex cerebral) em desenvolvimento nos primeiros dois meses de gestação. Como divulgado no domingo na Science, uma das mais conceituadas revistas científicas do mundo, os especialistas constataram que, em 11 dias após a infecção pelo Zika, há uma redução em 40% no crescimento do minicérebro.

De acordo com Rehen, a expectativa do grupo, formado por dez pesquisadores, é lançar em até dois meses a descoberta de um remédio (e não vacina) que possa ser usado por grávidas.

— Há dez medicamentos hoje sendo testados, sendo que tem chence de reduzir a morte celular causada pelo Zika. Se ele mexe com a replicação viral, não sabemos ainda. Precisamos de muitos outros testes para apresentar esse medicamento como uma possibilidade de utilização por mulheres grávidas — afirma o neurocientista do IDOR e da UFRJ.

Ele explica que, como os testes são feitos com medicamentos já usados para outras doenças, caso haja um resultado positivo na sua aplicação contra os estragos provocados pelo vírus — que não só alteram a morfologia cerebral como causam a morte de neurônios —, eles poderão chegar mais rápido até as grávidas.

—São medicamentos já aprovados na Anvisa. Seria como se houvesse um segundo uso para eles. Queremos agir de forma rápida e precisa para que se possa trazer para as mulheres grávidas uma redução de danos causados pelo vírus — diz ele, que levou com os outros cientistas apenas 25 dias para descobrir a relação direta entre a microcefalia e o Zika. — Em março, quando experimentamos esse trabalho, começamos também a testar esses medicamentos. Esperamos que em dois meses teremos algum tipo de pista sobre um medicamento voltado a essas mulheres para divulgar numa revista científica.

Dois robôs chamados Cell Explorer estão sendo utilizados nos testes com minicérebros e combinações medicamentos, que são promovidos dentro da UFRJ.

DEVASTAÇÃO RÁPIDA

O estudo do grupo mostrou o potencial destruidor do Zika no cérebro fetal. No trabalho com os medicamentos, os cientistas têm levado em consideração as diferentes consequências nocivas do vírus. Quanto mais precoce for o estágio de desenvolvimento celular, mais perigoso é o Zika para o bebê. Em culturas com células isoladas, a destruição chega a 80% em somente três dias após a infecção.

— A malformação varia de acordo com a etapa em que ocorre essa infecção — ressalta Rehen, dizendo que os minicérebros são organoides mais complexos e que, por isso, o grau de morte celular acaba sendo diferente.

A equipe, que conta com a especialista em microcefalia Patricia Garcez, não recebeu até agora, no entanto, os R$ 400 mil da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado (Faperj) para o estudo. Bolsistas do grupo também têm recebido o benefício com atrasos. Durante a pesquisa, o grupo trabalhou 24 horas por dia, em dois turnos.

Ludmilla de Lima

Acesse no site de origem: Pesquisadores estudam medicamentos para serem usados por grávidas com zika (O Globo, 11/04/2016)

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