(Carta Capital, 07/04/2016) A fim de combater a epidemia, precisamos de um amplo investimento em pesquisas de qualidade.
Em meio a tantas notícias sobre a conjuntura nacional, aparentemente, a questão do zika vírus saiu temporariamente do foco das manchetes. Difícil saber se devemos sentir alívio ou preocupação.
Seria um alívio se estivéssemos encontrando soluções para o problema. Será que estamos? Por outro lado, causa também preocupação, pois não conhecemos as perspectivas de curto e médio prazo.
Tomamos conhecimento das informações sobre o zika de maneira dramática, com o envolvimento de muitas vidas, e com muito medo, pois não sabemos exatamente tudo o que esta epidemia poderá causar.
Está havendo, porém, uma tomada de consciência e uma busca efetiva por mais informações sobre o tema. Não podemos deixar o tempo passar e não podemos acreditar que o problema desapareceu.
Algumas coisas já sabemos: uma das causas da epidemia foi a falta de uma política clara de combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor da doença.
Lembro que, há alguns anos, tínhamos os chamados agentes mata-mosquitos, em razão da dengue. O que aconteceu com eles? Quem decidiu eliminar o agente de saúde do cenário ao invés de eliminar o mosquito?
Sabemos também que não há solução sem educação. Existe a necessidade de um processo pedagógico claro. É preciso estar nas escolas, nas ruas, nas praças e, principalmente, nas casas. Todos podem aprender e atuar na prevenção. Os métodos estão sendo amplamente divulgados e são muito simples.
Mas isso só não basta, apesar de já ser muito importante. É preciso um amplo investimento em pesquisa de boa qualidade, para que a ciência de nossas universidades e institutos de pesquisa possam encontrar as respostas.
Inúmeras são as perguntas que somente a ciência poderá responder. Precisamos diagnosticar, aplicar testes precisos (atualmente o diagnóstico é feitos pelos sintomas clínicos), aprender mais sobre as formas de transmissão (se a doença é transmitida sexualmente, por exemplo) e outros mecanismos.
Por enquanto, não temos uma vacina ou um tratamento eficaz. Será preciso buscar uma vacina efetiva e tratamentos adequados e com isolamento. Para os que estudam o cérebro, será preciso entender por que o alvo preferencial do vírus são os neurônios.
Para isso, é preciso que os nossos laboratórios estejam equipados, que nossos cientistas sejam valorizados e possam interagir e trabalhar conjuntamente, em rede. Precisamos que os insumos de pesquisa sejam adquiridos de maneira ágil – para que tudo isso ocorra, é preciso investimento dos ministérios da Ciência e Tecnologia, da Saúde e de tantos outros.
Recentemente o governo federal e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) anunciaram recursos para este fim. Isso significa que nossas universidades estão formando uma rede de pesquisas contra o zika, a fim de entender como fazer o diagnóstico mais preciso da infecção, produzir uma vacina eficaz e proteger nossos recém-nascidos e adultos.
Precisamos nos unir, não só para combater o mosquito, mas também para produzir um conhecimento que nos ajude a superar as doenças e produzir segurança e qualidade de vida.
Soraya Smaili
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