(O Estado de S. Paulo) Em entrevista ao caderno Aliás, a pesquisadora Wânia Pasinato, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, fala sobre a cena que mostra a escrivã acusada de corrupção sendo revistada e desnudada à força por policiais da corregedoria e sobre a discriminação vigente nas corporações policiais. Abaixo, trechos da entrevista:
“Dentro da corporação existe muita discriminação contra mulheres. Ela aparece na limitação de seu ingresso, nas dificuldades que encontram para ascender na carreira, na relação difícil com a chefia. O vídeo tem muitos elementos para discussão – não apenas de gênero. A questão da corrupção é um deles: se a escrivã é culpada, tem que responder administrativa e criminalmente. Mas a cena toda mostra que, em nenhum momento, ela se nega a ser tocada ou revistada. O que ela coloca é uma condição, que é direito não só dela como de qualquer mulher, de ser revistada por uma policial. E vale notar que há duas delas na sala.“
“… essas duas policiais – que não são da civil, parecem ser da Guarda Metropolitana – não se movem! Elas não interferem nem tentam mediar a situação em favor da escrivã. Nessa inação entram outros elementos: o peso da hierarquia, as suscetibilidades por pertencerem a corporações distintas… Outra mulher, a corregedora Maria Inês Trefiglio Valente, justificou o arquivamento do inquérito por considerar que os delegados agiram ‘dentro do poder de polícia’ e acabou afastada. Como entender isso?”
“…Inclusive porque a doutora Maria Inês não só foi delegada de uma delegacia da mulher, mas pertenceu ao serviço técnico de coordenação dessas delegacias. Mais: foi muito atuante, com um discurso em prol dos direitos das mulheres. Mas parece que tudo isso se perdeu quando houve o seu deslocamento para outra instituição. Parece que, por não mais atuar em um órgão especializado, o olhar de gênero dela se fecha, sofre um bloqueio.”
“A Fundação Perseu Abramo divulgou uma pesquisa recentemente que revelou que a cada 2 minutos, 5 mulheres são agredidas no Brasil. Por que esse comportamento persiste em nossa sociedade? A pesquisa mostra que houve uma redução de 8 para 5 mulheres agredidas a cada 2 minutos na última década. É uma diminuição pequena se levarmos em conta que já se vão 30 anos de discussão da violência contra a mulher na sociedade brasileira. Mas ela tem que ser comemorada.”
“A Lei Maria da Penha contribuiu muito, especialmente pela exposição pública que teve. É uma lei que caiu na boca do povo. Embora não exista um número nacional de registros de ocorrências nas delegacias, é possível notar um aumento no número de queixas. Em especial, nota-se um crescimento no número de queixas de ameaças – antes mesmo da agressão, o que pode sugerir que essas mulheres estão se adiantando para evitar a situação de violência. Isso é positivo.“
Leia na íntegra em pdf: Imagens da discriminação (O Estado de S. Paulo – 28/02/2011)