Mulher negra abolicionista estampará nota de US$ 20 no lugar de escravocrata

20 de abril, 2016

(Folha de S. Paulo, 20/04/2016) O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciará na tarde de quarta-feira (20) que Harriet Tubman, mulher negra que ajudou milhares de escravos a escapar para a liberdade no século 19, substituirá o escravocrata Andrew Jackson como efígie na nota de US$ 20, de acordo com um dirigente do Tesouro. Outras imagens relacionadas às mulheres e a líderes dos direitos civis também serão parte do novo design das notas.

Alexander Hamilton, primeiro secretário do Tesouro na história dos EUA, continuará a ser a face da cédula de US$ 10. Ele ganhou popularidade recentemente devido a um musical sobre sua vida na Broadway. Deve haver imagens de mulheres no verso da nova nota.

Os novos projetos gráficos, criados pelo Bureau of Engraving and Printing –a divisão do Tesouro encarregada de desenvolver cédulas, títulos, patentes e diplomas–, deveriam ser formalmente anunciados em 2020, em tempo para o centenário do sufrágio feminino e da emenda constitucional que o autorizou nos Estados Unidos. Nenhuma das novas notas, entre as quais uma nova cédula de US$ 5, deve entrar em circulação antes da próxima década.

Alguns grupos de mulheres vêm criticando pesadamente o secretário do Tesouro Jacob Lew por abandonar sua promessa, feita dez meses atrás, de colocar uma mulher na nota de US$ 10, a próxima na fila para uma mudança de projeto gráfico concebida como forma de dificultar falsificações.

Nos meses abertos a comentários públicos sobre o novo design da nota que se seguiram à promessa, Lew terminou por ceder à pressão em favor de Hamilton.

FENÔMENO HAMILTON

Quando Lew anunciou, em junho, que era provável que uma mulher se tornasse a efígie da nota de US$ 10, ele imaginou que isso poderia ser positivo para o governo Obama. Mas isso foi antes que “Hamilton”, um musical de rap, criasse legiões de novos fãs para Alexander Hamilton, um dos pais fundadores dos Estados Unidos, que já serve como efígie da cédula de US$ 10.

O fato de que “Hamilton” e seu criador, Lin-Manuel Miranda, ganharam o Pulitzer de teatro esta semana não facilitou as coisas. Miranda fez pressão pública sobre Lew para que ele mantivesse Hamilton como efígie da nota, e atraiu a adesão de milhares de outros fãs do estadista em todo o país.

Mas antes do anúncio formal, diversas mulheres recorreram à mídia para afirmar que uma vitória de Hamilton seria uma derrota para as muitas mulheres que desejam que alguém de seu sexo se torne a efígie de uma nota.

“É mais uma ocasião em que as mulheres estão sendo forçadas a esperar pela sua vez”, escreveu a comentarista política Cokie Roberts quarta-feira no jornal “The New York Times”.

Outras mulheres não abandonaram a esperança, dado o número de notas que terão de ser reformuladas.

“Pode parecer que temos coisas mais importantes com que nos preocupar, mas todas nós estaremos de olho para garantir que eles encontrem outras oportunidades”, disse a senadora Claire McCaskill, democrata do Missouri.

Jackei Calmes, Tradução de Paulo Migliacci

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