(Folha de S.Paulo, 01/05/2016) Um novo pesadelo passou a fazer parte da rotina das gestantes nos últimos meses: o medo de infectar-se pelo vírus da zika e de o bebê vir a desenvolver microcefalia ou outras alterações cerebrais.
Muitas dúvidas ainda persistem. Entre elas uma que perturba toda futura mamãe: “Se eu pegar zika, qual o risco real de o meu bebê vir a ter uma má-formação cerebral?”
Estudo publicado em março na revista médica inglesa “Lancet” estimou as chances de microcefalia em 1%.
Os cálculos foram feitos a partir dos dados da Polinésia Francesa, que teve um surto de zika entre outubro de 2013 e abril de 2014, com 66% da população atingida. Para comparação, outras doenças infecciosas têm chance muito maior de causar má-formação, como a rubéola (38% ou mais) e o citomegalovírus (13%).
O estudo, porém, possui limitações, entre elas o fato de não ter considerado outras más-formações sabidamente associadas ao vírus, como calcificações cerebrais e degeneração ocular.
Risco pequeno ou não, a orientação para as grávidas é de precaução máxima. Como ainda não há vacinas ou remédios para combater a infecção por zika, o único caminho é evitar o contágio.
Até março, a prevenção se resumia no uso de repelentes, roupas compridas e evitar as áreas de circulação do zika. A partir de abril, a OMS passou a recomendar também que as grávidas e os seus parceiros usem camisinha nas relações sexuais.
Isso porque ao menos sete países têm registros de transmissão da zika também por meio da via sexual. Os casos estão sendo investigados.
Pelo que se sabe até agora, os especialistas acreditam que o vírus promove a imunização de quem adoece. Ou seja, se você já pegou a zika, não pegaria de novo.
No entanto, é bom lembrar que existem outras doenças causadas por vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti, como os quatro tipos de dengue e a febre chikungunya, que também podem causar danos aos bebês, segundo estudos mais recentes.
Uma grávida que contrai dengue na gravidez, por exemplo, tem 3,5 vezes mais chances de sofrer um aborto e quase duas vezes (1,7) mais riscos de o bebê nascer prematuro em comparação às gestantes não infectadas.m relação ao chikungunya, o perigo está no fim da gestação, já que pode ocorrer transmissão do vírus da mãe para o bebê na hora do parto (transmissão vertical).
Sim, não está nada fácil a vida das grávidas em tempos de tantas viroses.
Cláudia Collucci
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