(Metrópoles, 03/05/2016) Domingo foi Dia do Trabalho. Esta data existe para relembrar a luta dos trabalhadores pelos seus direitos. Por muito tempo, entretanto, esse movimento esteve desvinculado da pauta LGBT, mas nos últimos anos essa situação tem se modificado fortemente.
As conquistas da classe trabalhadora se deram com muita luta, suor e, algumas vezes, derramamento de sangue. Foi graças a uma organização coesa que conquistamos o direito ao salário mínimo, FGTS, férias e aposentadoria. No entanto, por diversas vezes esta luta não observou as exigências das minorias, como por exemplo as mulheres e os deficientes.
Quanto aos LGBTs, as conquistas são bastante recentes, do final da década de 1970 e anos 1980.“
Com forte influência das ideias socialistas, comunistas e até mesmo anarquistas, todas essas linhas de pensamento cobravam uma certa “moral operária” que deveria lhe pautar a vida. Por muito tempo isso foi lido, dentre outras coisas, com uma exigência de castidade que contrastava com a liberalidade burguesa, tida como perdulária, devassa e hipócrita.
As questões da sexualidade eram negadas e colocadas como não referentes a esta luta, numa espécie de “don´t ask, don´t tell” que, sabemos, sempre levam a uma invisibilidade que gera ainda mais injustiças sociais. Só no final do século 20, os homossexuais e transgêneros conseguiram ser ouvidos quanto aos seus apelos à necessidade de um olhar sobre as suas especificidades.
Uma forma de visualizar o que estou falando é o filme “Pride” (2014), em que acompanhamos a história real da dificuldade que um grupo de gays e lésbicas precisam enfrentar para dar suporte a uma greve de mineradores na era Thatcher, na Inglaterra, simplesmente porque são gays e lésbicas. Nenhum sindicato quer aceitar o suporte que eles oferecem por conta da origem do dinheiro arrecadado – festas e bares gays.
No Brasil, a situação não era muito diferente nessa época, mas com o passar dos anos, a questão LGBT foi conquistando espaço nos debates dos direitos trabalhistas. Hoje em dia, uma união homoafetiva consegue, sem maiores dificuldades burocráticas, as mesmas vantagens da heteroafetiva em relação a pensão ou licença para acompanhar cônjuge; licença maternidade/paternidade no caso de adoção de crianças; e, mais recentemente, o direito ao uso do nome social das travestis e transexuais, para citar alguns exemplos.
Agora há um aspecto que não está exatamente na lei, mas que todo dia é posto à prova. Ainda é muito comum muitos gays e lésbicas não se sentirem confortáveis em expressar sua orientação sexual no ambiente de trabalho. O primeiro pensamento? “É meu ambiente de trabalho e ninguém tem nada a ver com minha vida particular”.
À primeira vista, esta ideia não tem nada de errado, porém isso não se aplica a todos da mesma forma. Normalmente as pessoas não se incomodam em falar de seus maridos e filhos no trabalho, quando suas relações são heterossexuais. Nos almoços, reuniões e confraternizações, todos apresentam seus cônjuges, devidamente do sexo oposto ao seu.
Diante deste fato, o homossexual acaba vivendo um isolamento, mesmo tendo uma relação como a de qualquer outro. Assim a regra acaba se aplicando apenas a ele, ou ela, o que na realidade mascara uma insegurança, um receio de ficar marcado no ambiente laboral ou de simplesmente mudar radicalmente a sua relação tão boa com os outros colegas enquanto eles não conheciam esta parte da sua vida.
É muito importante que todos saibam que a lei lhe garante o emprego independente de orientação sexual ou gênero. Afinal, o local de trabalho deve ser um lugar onde você se sinta bem e confortável para realizar sua atividade e viva plenamente todos os aspectos da sua vida.
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