(Terra, 11/05/2016) Uma pesquisa realizada pela Rede Zika, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade de São Paulo (SP) apresentou a evidência definitva das ações do vírus causador da Zika durante a gestação e confirma que doença é a causadora do surto de microcefalia no Brasil. Os resultados da pesquisa foram publicados nesta quarta (11) pela revista Nature.
Nos camundongos, o vírus foi capaz de atravessar a placentas das fêmeas, infectar os fetos e provocar a morte das células que dariam origem aos cérebros dos filhotes.
“Não há mais dúvidas de que o vírus Zika é neurotóxico e pode causar microcefalia. A lesão que encontramos nos cérebros dos filhotes, caracterizada principalmente pela redução da espessura do córtex [camada mais externa e sofisticada do cérebro dos vertebrados], é muito característica e também foi vista nos bebês humanos. Além disso, encontramos o vírus se replicando no cérebro dos camundongos recém-nascidos em quantidades muito maiores do que em outros órgãos”, comentou Jean Pierre Peron, professor do ICB-USP e um dos autores do artigo.
Também foram feitos experimentos in vitro com três “minicérebros” criados a partir de células humanas. Nos três modelos foi comparado o efeito da exposição à linhagem brasileira de ZIKV, à linhagem africana e também ao vírus da febre amarela. Esse experimento comprovou que a linhagem brasileira do Zika é mais agressiva que o Zica africano, que originalmente atacava outros primatas. Isso dá base à teoria de que o vírus brasileiro foi vítima de mutações que o deixaram capaz de infectar humanos.
“Decidimos usar o vírus da febre amarela, que também é da família Flaviviridae como o Zika e a dengue, como uma espécie de controle negativo. Para ter certeza de que os efeitos observados não seriam resultantes de qualquer infecção viral, mas específicos do Zika”, explicou Patricia Beltrão Braga, pesquisadora do ICB-USP.
O artigo abre caminho para pesquisas voltadas ao desenvolvimento de vacinas e métodos de proteção aos fetos de mães infectadas. Além de tentar entender por que os neurônios são menos afetados que as células progenitoras, Braga também está interessada em descobrir formas de evitar a morte celular induzida pelo vírus. “Precisamos desvendar qual é o tipo de resposta imunológica desencadeada no cérebro e se ela favorece ou minimiza a morte das células”, afirmou a pesquisadora.
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