(Agência Brasil, 12/05/2016) Ex-ministros e parlamentares aliados do governo da presidenta afastada Dilma Rousseff avaliaram que o ministério anunciado pelo presidente interino Michel Temer, que toma posse hoje (12), representa um retrato do novo governo, já que não constam, entre os nomes anunciados, mulheres ou negros. Temer divulgou mais cedo a lista de ministros, seis dos quais já integraram o governo de Dilma ou o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O novo ministério é um retrato do que eles pensam. É retrato do desrespeito com a mulher e da falta de compromisso com a questão social”, avaliou o ex-ministro da Secretaria de Governo Ricardo Berzoini.
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Para a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello a população pobre do país “ainda não se deu conta do que está acontecendo”. “Hoje vai ter foto com a cara desse governo, que é uma cara de brancos, homens, sem diversidade nenhuma que não representa esse país. Quando a população pobre se der conta do risco que correm os programas sociais, eu acho que começamos a mudar esse jogo definitivamente. Vai ser um até breve que estamos dando”.
A ex-ministra das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos Nilma Lino Gomes afirmou que o ministério da presidenta afastada tinha um perfil pela luta democrática. “As questões de gênero e de raça são contempladas por nosso governo, porque a presidenta só está afastada. Ela continua sendo presidenta”.
Para a ex-secretária especial de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, o novo ministério de Temer é um retrocesso. “Acho um golpe e um descalabro ele assumir e montar [uma equipe] porque ele e o Eduardo Cunha [presidente afastado da Câmara] são os líderes do golpe. Assume um governo interinamente, monta ministério, desfaz [outro] e, além do mais, não tem nenhuma mulher, porque governo golpista não pensa em 52% da população. Esse é um golpe machista, patriarcal, misógino, capitalista de classe, contra um projeto de governo da inclusão social. Eles não gostam de pobres, de mulheres, negros, gays, lésbicas, indígenas. Enfim, nós fizemos tudo que pudemos. Tenho certeza de que voltaremos”, disse Eleonora.
Segundo a deputada Maria do Rosário (PT-RS), a diversidade do Brasil não está no ministério anunciado. “Não há [na equipe anunciada por Temer] nem mulheres, nem negros, nem indígenas. A diversidade do Brasil não está dentro deste governo. O que a gente percebe é que há muitos citados na [Operação] Lava Jato cotados também para postos-chave no governo. Seria um governo da moralidade, mas é um governo nascido com o DNA do golpismo, de dentro do [Palácio] Jaburu e de Eduardo Cunha como presidente da Câmara”.
Para o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), Temer vem com uma tarefa: “quem bancou o golpe vai exigir dele medidas. E há indícios: quando a Previdência vai ser incorporada pelo Ministério da Fazenda é mau sinal para o sistema previdenciário do Brasil. Quando você junta Cultura com Educação é também um mau sinal para algo que é a identidade de um povo, que é sua própria cultura. É de se prever, portanto, que haverá ações frente a direitos trabalhistas, especialmente, e direitos previdenciários”.
O ex-ministro da Secretaria de Governo Ricardo Berzoini também criticou o fato de a Previdência ser incorporada pelo Ministério da Fazenda. “Quem cogita colocar a Previdência na Fazenda certamente não tem nenhuma noção do que é o Estado de proteção social construído pela Constituição de 1988. Sabemos que é incompatível tratar o tema da Previdência comandado pela Fazenda. O comando do debate da Previdência pela Fazenda é um sintoma do grau de truculência social que representam esses senhores que fazem um golpe e têm a coragem de fazer um ministério sem nenhuma mulher”, disse Berzoini.
Segundo a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), os parlamentares da base aliada vão trabalhar para que direitos sociais sejam mantidos. “Estaremos resistindo para que os direitos sociais e os direitos dos trabalhadores não sejam retirados. Esperamos que nesses 180 dias Temer não mexa nesses direitos e que mantenha o rumo da economia para uma economia inclusiva e não uma economia neoliberal.”
O Senado aprovou hoje (12), por 55 votos a favor e 22 contra, a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Com isso, o processo será aberto no Senado e Dilma será afastada do cargo por até 180 dias, a partir de hoje.
Ana Cristina Campos e Pedro Peduzzi; Edição: Denise Griesinger
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