(em.com.br, 14/05/2016) Apesar de queda nos casos, confirmação de que bebê em Uberaba tem microcefalia causada pelo vírus leva governo do estado a reforçar importância de medidas contra o mosquito.
A confirmação do primeiro caso de bebê com microcefalia decorrente de infecção pelo zika vírus acende o alerta em Minas Gerais. Apesar de tendência de queda no número de casos da doença, segundo especialistas, por causa das mudanças climáticas e a menor proliferação do Aedes aegypti, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) adverte que a luta contra o mosquito ainda está longe do fim e é preciso cuidado. A criança com a doença, atualmente com 5 meses, nasceu em Uberaba, no Triângulo Mineiro, no dia 10 de dezembro do ano passado e o problema foi detectado ainda na gestação.
O exame que apresentou resultado positivo para microcefalia causada pelo zika foi feito num fragmento da placenta no dia seguinte ao nascimento. Segundo nota da Secretaria Municipal de Saúde de Uberaba, o Departamento de Vigilância Epidemiológica informou que a mãe, de 36 anos, apresentou quadro de exantema (manchas no corpo) por dois dias no quarto mês de gestação. A secretaria de Uberaba destacou que, na época, não havia indicação da circulação do zika vírus na cidade ou qualquer associação com riscos para as gestantes. As primeiras evidências da associação do vírus aos casos de microcefalia no Brasil surgiram em novembro do ano passado.
No sétimo mês de gestação, durante um exame de ultrassonografia, foi identificado o quadro de microcefalia. A gestante, que fazia pré-natal em unidade da rede pública municipal, foi então encaminhada para atendimento no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC/UFTM). A mulher deu à luz no próprio hospital e o bebê está sendo acompanhado pelas equipes de neurologia, pediatria e fonoaudiologia desde o nascimento. A secretaria acrescentou que exames complementares serão feitos.
O superintendente de Vigilância Epidemiológica Ambiental e Saúde do Trabalhador da SES, Rodrigo Said, destaca que o mosquito, que também transmite a dengue, circula durante todo o ano e, por isso, os cuidados em relação ao combate aos focos do Aedes aegypti não devem cessar. Entre outras ações, ele ressalta a necessidade de se manter a casa limpa e sem água parada para evitar os possíveis criadouros, eliminar pratinhos de plantas com água, garrafas PET ou qualquer objeto que facilite o acúmulo de água. “Atentar ainda para o armazenamento e destinação do lixo, manter as calhas livres de entupimentos para evitar represamento de água nas mesmas, manter limpos e escovados os bebedouros de animais domésticos. A água deve ser trocada diariamente”, afirma.
Até o momento, a SES confirmou 176 casos de gestantes infectadas pelo zika vírus em Minas, de um total de 747 notificações (desses, 536 ainda estão em investigação). Já no protocolo de monitoramento de microcefalia, foram notificados 106 casos da doença, sendo dois confirmados por associação com o vírus: um em Sete Lagoas (Região Central do estado), que resultou em aborto, e o de Uberaba. O terceiro caso confirmado se refere a um recém-nascido em Montes Claros (Norte de Minas), cujos exames apontaram como causa infecção congênita.
NORDESTE O infectologista Unaí Tupinambás afirma que o zika vem diminuindo em virtude da mudança climática, com temperaturas mais amenas e escassez de chuva nesta época do ano. A tendência clínica é voltar à agenda antiga, com o desaparecimento dos casos de dengue e prováveis notificações de zika. Ele chama a atenção ainda para a probabilidade de a mãe do bebê nascido em Uberaba ter contraído a doença no Nordeste do país: “Os casos no Brasil começaram a aparecer justamente nessa região, em fevereiro do ano passado”. A Secretaria Municipal de Saúde de Uberaba não conseguiu confirmar se ela viajou para outro estado.
O médico ressalta ainda que as ocorrências mostraram que o risco de transmissão é maior no primeiro semestre e que apenas 20% das pessoas infectadas apresentam sintomas. Tupinambás lembra que ainda há muitas perguntas sem respostas. Uma delas é sobre os riscos para o recém-nascido, já que nem todas as infecções contraídas durante a gestação são transmitidas aos bebês. Apesar de risco diminuído e da necessidade de muitos estudos, o infectologista destaca que os cuidados continuam sendo essenciais – principalmente entre as gestantes ou entre as mulheres que planejam engravidar. Elas devem controlar o criadouro, se proteger usando roupas de manga comprida e claras, repelentes, pôr tela nas janelas e cortinado. “No próximo verão teremos mais respostas, mas uma delas já sabemos: a taxa de transmissão não era tão alta quanto pensávamos. Mas é preciso continuar se cuidando e não baixar a guarda.”
No país, há mais
de 1,2 mil casos
O Brasil tem 1.271 casos confirmados de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso, sugestivos de infecção congênita, segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, referente a registros feitos até o último dia 30. Desses, 203 tiveram associação confirmada em laboratório com o vírus zika. Mas a pasta ressalta que esse dado não representa, adequadamente, a totalidade do número de casos relacionados ao vírus. O ministério considera que houve infecção pelo zika na maior parte das mães que tiveram bebês com diagnóstico final de microcefalia. No total, foram notificados 7.343 casos suspeitos desde o início das investigações, em outubro de 2015, sendo que 2.492 foram descartados. Outros 3.580 estão em fase de investigação.
Junia Oliveira
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