(O Estado de S. Paulo, 17/05/2016) Diretora-geral da entidade alerta que sistema de saúde no Brasil terá de ser reposicionado para lidar com impacto de longo prazo.
A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde, Margaret Chan, apelou para que o novo governo brasileiro mantenha os planos de luta contra o vírus zika e alerta que, ainda que o ministro mude na pasta de Saúde no Brasil ou que haja uma nova estratégia, a situação não.
“Tomei nota da mudança no Brasil. Mas as evidências não mudam. Governos mudam, mas a ciência, não. Esperam que continuem o que vinha sendo feito”, declarou a diretora, insistindo que o combate está longe de ser declarado como encerrado. “Quanto mais aprendemos de zika, mais preocupados ficamos”, disse Chan, lembrando que o risco mudou ao longo dos anos.
Em entrevista na manhã desta terça-feira à Rádio Estadão, o novo ministro da Saúde, Ricardo Barros, declarou que vai até a OMS, em Genebra, na Suíça, na semana que vem, e que usará seu discurso na próxima segunda-feira, 23, para tranquilizar a comunidade internacional sobre as medidas que serão tomadas no Brasil, incluindo as adotadas nos Jogos Olímpicos do Rio, em agosto.
O ministro deixou claro que não tem mais recursos e que vai tentar “copiar” o que já deu certo no combate ao mosquito Aedes aegypti.
“No discurso, vou reafirmar que as medidas comprometidas para os Jogos serão efetivadas. O presidente (em exercício, Michel) Temer convocou uma reunião ministerial para tratar do assunto e quer que todos ministros garantam que os compromissos assumidos sejam realizados na íntegra”, disse. “Também vou reafirmar que todos os atletas e turistas podem vir ao Rio sem nenhum receios e com absoluta segurança.”
Mas Barros também apontou que vai usar sua passagem por Genebra para conversar com governos estrangeiros para saber como melhor lidar com o combate ao Aedes. “A nossa prioridade é combater o vetor, o mosquito. Aproveitarei para conversar em Genebra com representantes de vários países e alguns que controlaram o vetor”, explicou o ministro.
“Vou conversar com aqueles que tiveram sucesso no combate e vamos repetir a mesma coisa. Vamos copiar o que deu certo. As melhores praticas tem de ser repetidas”, alertou Barros. “É assim que podemos usar melhor os recursos da saúde, pois não ha possibilidade de mais recursos em função da crise fiscal que estamos tendo nesse momento.”
No entanto, segundo Chan, um dos principais desafios do governo a partir de agora será o de lidar com o impacto de longo prazo do impacto do zika e da microcefalia. “O sistema de saúde terá de ser reposicionado”, disse, ao responder ao Estado. “Existem alguns sistemas de saúde que são bons para lidar com emergências. Mas agora os governos precisam monitorar com essas crianças afetadas vão crescer.”
“Já estamos tendo notícias de algumas delas com problemas de audição, visual”, explicou. “Temos de avaliar como será o impacto no desenvolvimento delas.” Isso, em sua avaliação, exigirá um plano de “longo prazo”.
Olimpíada. Sobre os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, Chan tem sido pressionada por especialistas que apontam que a OMS deveria recomendar o adiamento do evento, diante do vírus. Mas não apenas rejeitou a proposta como garantiu que estará no Rio. “Vai ser fantástico”, disse.
Seu objetivo é o de mostrar que não existe motivo para um cancelamento. Mas, ao dar sua avaliação sobre o evento, ela apenas recomenda que mulheres grávidas devam evitar o Rio. “Grávidas devem evitar viajar aos locais com transmissão”, disse, lembrando que a decisão de ir ou não ao Rio deve ser algo pessoal.
“Compartilho das preocupações. Mas essa é uma decisão individual ou de grupo. Nosso papel é o de dar a melhor informação possível”, afirmou.
Ela, porém, rejeita qualquer ideia de adiar o evento. “Não podemos parar o mundo”, disse. “Estamos apoiando o Brasil diretamente e por meio do COI (Comitê Olímpico Internacional) para que coloquem medidas para reduzir a densidade de mosquitos.”
Em sua avaliação, a melhor forma de lidar com o problema hoje no Brasil é o de tomar medidas focadas, como a de evitar a viagem de grávidas e reduzir a densidade de mosquitos nos locais de provas. “Sentimos que ter metas é importante”, declarou.
Parte da recomendação também é dirigida para homens que irão aos Jogos e, na volta a seus países de origem, podem trazer o vírus com eles. “Ao retornar, esses homens precisam usar preservativos em suas relações sexuais, principalmente se suas mulheres estiverem grávidas. Sugerimos que o uso de preservativo seja permanente até o final da gestação. Ou que haja uma abstinência”, declarou a diretora-geral da OMS. “Mas, mesmo em casais que não estejam esperando um filho, recomendamos que preservativos sejam usado ao retornar de locais contaminados.”
Jamil Chade, Correspondente de O Estado de S. Paulo
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