(O Estado de S. Paulo) A somali Waris Dirie sofreu o violento ritual de mutilação genital feminina aos 5 anos, se tornou uma das mais solicitadas modelos negras da década de 90, e hoje, com 45 anos, preside sua fundação Flor do Deserto, em Viena, Austria. Autora do bestseller internacional Flor do Deserto, de 1998, que deu origem ao filme de mesmo nome, Dirie percorre o mundo como embaixadora da ONU denunciando a mutilação genital feminina. Veja trechos da entrevista publicada no suplemento “Aliás”:
“Na maioria dos países, as mulheres dificilmente estão envolvidas em qualquer processo político, incluindo os de guerra. Se estivessem, muitos conflitos ao redor do mundo já estariam solucionados.”
“Casamentos arranjados, que são basicamente a venda da própria filha para outra família ou homem, e a mutilação genital são, na essência, sintomas diferentes da mesma doença. E essa doença é olhar para mulheres e tratá-las como se fossem objetos, não seres humanos.”
“Pessoas sempre dizem que mais mulheres no poder trarão mais justiça e igualdade. Contudo, num país como Bangladesh, onde há uma primeira-ministra e a líder da oposição é uma mulher, mulheres ainda são atacadas com ácido nas ruas, geralmente por recusarem casamentos arranjados ou investidas sexuais.”
“É como colocar uma mulher no topo de uma empresa dominada por homens e dirigida por uma cultura do “macho”. Ela não vai fazer diferença, a menos que a cultura dentro da empresa mude também. O mesmo é verdadeiro para sociedades. São as sociedades que têm de mudar, não o sexo das pessoas no topo.”
“A violência contra as mulheres é baseada no medo do poder e da força da mulher. Pense nisso: os homens têm dominado mulheres por tanto tempo… Você pode compará-los a um ditador, que também teme perder poder, dinheiro e influência se permitir aos presumivelmente mais fracos ter voz.”
“A rede social tem um enorme potencial para promover mudanças, especialmente em regimes antigos e restritivos, nos quais as pessoas não têm possibilidade de expressar abertamente suas opiniões ou usar os meios de comunicação tradicionais para promover suas ideias.”
“Minha fundação (www.desertflowerfoundation.org) usa com sucesso a rede social para alcançar os jovens e promover uma mudança na percepção sobre a mutilação genital, divulgar informações e, claro, para interagir uns com os outros.”
Entrevista na íntegra: Intervenção cirúrgica (O Estado de S. Paulo – 13/03/2011)
Leia também: Encontro com a emancipadora (O Estado de S. Paulo – 13/03/2011)