(HuffPost Brasil, 18/05/2016) Eu tinha 12 anos quando dei o meu primeiro beijo. Ele tinha 15 ou 16 e era desejado por todas as meninas do grupo. Eu penei para conquistar sua atenção, mas por fim aconteceu. Eu até queria, mas também fui bastante pressionada pelas amigas mais velhas. O beijo realmente só aconteceu quando uma delas literalmente me empurrou para os braços dele. Foi estranho. Achei meio nojento e demorou mais de 1 ano inteiro para que eu me arriscasse a beijar outro garoto novamente.
Aos 13 eu era uma “menina feita”, como dizem. Meu corpo mudou muito pouco de lá pra cá (a não ser, é claro pelos evidentes quilos a mais). Menstruei muito cedo e logo dei aquele salto de desenvolvimento. Aos 13 eu era também uma “menina mais madura do que as garotas da minha idade”. Seja pela minha personalidade, pelo meu conhecimento cultural acima da média para a faixa etária; mas, principalmente, pelas circunstâncias que me obrigaram a amadurecer e a ser responsável não apenas por mim, aos 13 anos eu já me considerava uma mulher.
E foi aos 13 que tive uma paixão platônica que durou 2 anos por um homem 12 anos mais velho do que eu. Ele era da igreja que eu frequentava na época e era tido como “ancião” e um modelo para os jovens. Tinha o dom da oratória como poucos e tinha um perfil que me atraía muito: gordinho, simpático, engraçado, carismático e íntegro.
Eu, uma menina inteligente, encorpada, madura e desesperada por uma figura masculina saudável na minha vida, atormentei a vida dele com as minhas súplicas de amor. Fugi de casa para que ele me encontrasse, mandei cartas, e chorei escrevendo no meu diário o quanto o amava. Ele jamais correspondeu a tudo isso a não ser com uma atenção pura e um carinho genuíno pela menina que ele via querendo um pai, estabilidade, segurança e amor. Nunca se tocou no “assunto” e apenas uma vez ele me disse o quanto eu ainda seria feliz com alguém da minha idade. E ele não poderia estar mais certo.
Sim. Eu me considerava uma mulher e tinha certeza absoluta de que aquilo, aquele possível (ou impossível) relacionamento era o que eu queria. Aliás, era o que eu mais queria na vida.
A Tayná de hoje (depois de tudo quanto é tipo de processo terapêutico e anos de busca pelo autoconhecimento) enxerga com muita clareza o quanto a Tayná de 13 anos era uma criança. Uma criança sonhadora, assustada, psicologicamente quebrantada por um pai abusador e um ambiente familiar absolutamente tóxico.
Sim. Eu era “madura” porque a vida faz isso para que possamos sobreviver às cenas que aparecem na nossa frente. Se alguém lesse meus diários e cartas daquela época teria a certeza de que “era eu quem queria”, mas teria a certeza também de que em boa parte dos meus dias o meu maior desejo era sumir, morrer, desaparecer. Está lá, nos mesmos diários uma pergunta quase corriqueira: “Por que ninguém me ama?”, “Por que eu?”, “Por que?”.
A Tayná de 13 anos não tinha o menor discernimento do que era amor de verdade. Qualquer migalha de amor era válida, era suficiente. Se ele (meu amor platônico) tivesse me chamado para dormir ou para fugir com ele eu teria ido. Não porque “eu queria”, mas simplesmente porque era o que eu acreditava que me preencheria de amor. A Tayná de 15, de 18 ainda faria a mesma coisa.
Tornar-me adulta foi um processo doloroso e lento para mim. Imagino para as meninas que não tiveram a possibilidade de ir atrás de tratamento, de cura, de amor. Eu tive “sorte” por não ter tido um Laércio na minha vida, pois ele apenas me tiraria do sofrimento paterno para o sofrimento conjugal como acontece com tantas adolescentes.
Então eu vejo esses prints e comentários culpabilizando as vítimas adolescentes de homens adultos e sinto apenas nojo por esses homens e por esta sociedade. Pessoas sem qualquer sensibilidade (e memória) alegam que uma menina de 13 anos que se oferece, que fuma e que bebe “sabe muito bem o que está fazendo.”
Que as meninas “de hoje em dia” estão “piores que as mulheres adultas”. Opa, esse sim é um comentário ofensivo, hein? Afinal de contas, o que pode ser pior do que uma mulher que demonstra desejo por um homem? Aparentemente uma menina, uma criança. Sim, porque “vai acabar com a vida dele, coitado”. “O cara não tem obrigação de saber que ela é uma criança…”.
Olho para a minha foto aos 13 anos, me vejo nesses prints, me vejo nessas meninas e nesses comentários.
Sinto profunda compaixão por todas elas. Mas também sinto dor. Muita dor. Sinto um profundo desejo de que elas se encontrem, se amem, se perdoem. E que, se assim o desejarem, assim como eu, possam encontrar um amor saudável que as façam genuinamente felizes, sorridentes e livres.
Essa sou eu, aos 13.
E você, já olhou para você, para a sua menina aos 13 com os mesmos olhos com que julga as vítimas de Laércio?
Acesse no site de origem: Eu, aos 13 anos, por Tayná Leite (HuffPost Brasil, 18/05/2016)