(Carta Capital, 04/06/2016) As escolas de negócios deveriam apoiar com maior ênfase a inserção feminina no mercado de trabalho
A reduzida proporção de mulheres em posições de liderança é discutida há algumas décadas. Pesquisas científicas apontam ganhos potenciais da presença feminina, para as empresas e a sociedade.
Legisladores e pesquisadores têm-se debruçado-se sobre o tema para fazer frente a situações anacrônicas de desigualdade. As pautas costumam abranger duas questões, como aumentar a participação de executivas em postos de comando e qual o caminho para reduzir a desigualdade salarial entre os gêneros.
Condições institucionais, culturas nacionais e práticas empresariais condicionam as chances femininas de ter sucesso na carreira e aumentar seus salários. A falta de políticas públicas e boas práticas organizacionais, combinada a resquícios de conservadorismo e ao machismo, frequentemente ergue barreiras difíceis de transpor. A situação varia substancialmente entre países, setores e organizações.
As escolas de negócios têm papel importante na redução da desigualdade de gêneros. A profissão de administrador oferece amplas possibilidades de trabalho a homens e mulheres. No Brasil, a Administração de Empresas é o curso superior mais popular, com mais de 800 mil alunos matriculados.
O público feminino corresponde perto de 55% dos estudantes de graduação. O porcentual cai para menos da metade, no entanto, nos programas de pós-graduação, popularmente chamados de MBAs. Isso deve ser motivo de preocupação, considerando-se a popularidade desses cursos, sua capacidade de atrair estudantes e o potencial para gerar impactos positivos sobre a carreira. Ter poucas mulheres na pós-graduação leva a uma quantidade ainda mais reduzida em cargos de liderança.
Segundo informações divulgadas pela revista norte-americana Fortune, o salário médio anual após o MBA, feito em tempo integral, com interrupção do vínculo empregatício, é de 100 mil dólares, um aumento de 45 mil dólares em relação ao salário anual anterior à pós-graduação.
No Brasil, quase todos os programas são realizados em tempo parcial, sem interrupção do vínculo empregatício. Apesar da diferença, pesquisas locais indicam também impacto significativo da formação sobre a empregabilidade, a progressão na carreira e os salários dos participantes.
Escolas de negócios fora do Brasil procuram atrair mais mulheres. Entretanto, o formato dos cursos, com pesada carga horária presencial e aulas à noite, em geral pune mais o público feminino. Com idade entre 25 e 35 anos, muitas estudantes precisam dividir o tempo entre o trabalho, o estudo e as tarefas domésticas, pois nem sempre contam com parceiros participativos.
Bernard Garrette, professor de estratégia da HEC, renomada escola de negócios francesa, divulgou recentemente um texto no qual incentiva os programas de MBA a buscar maior paridade de gênero. Em lugar de procurar apenas o aumento da porcentagem de mulheres nos programas, argumenta, as escolas deveriam focar a oferta de oportunidades de trabalho.
Segundo Garrette, muitas faculdades atribuem ao título de MBA propriedades mágicas, capazes de operar milagres na carreira de homens e mulheres. Obviamente, isso não acontece no mundo real, que trata de modo diferente os dois gêneros.
A solução é dar maior foco para as carreiras. Para isso, o professor indica três caminhos. O primeiro é tornar o ambiente do campus mais amigável e rico, com a criação de grupos e associações específicos para mulheres, e trazer executivas e empreendedoras de sucesso para partilhar suas experiências.
A segunda iniciativa é oferecer maior apoio à mulher na carreira e na busca de empregos, por meio de parcerias com empresas que fomentam a paridade de salários para homens e mulheres. A terceira é ensinar as mulheres a negociar remuneração e condições de trabalho, uma lacuna que desfavorece a progressão feminina na carreira, segundo pesquisas.
Além das indicações de Garrette, as escolas de negócios com atividades de pesquisa poderiam desenvolver mais estudos voltados ao aperfeiçoamento das práticas gerenciais e das políticas públicas, com vista à redução da desigualdade de gênero. Naturalmente, sua maior contribuição será sempre a qualidade do ensino, tanto para homens quanto para mulheres.
Acesse no site de origem: Programa mais mulheres, por Thomaz Wood Jr. (Carta Capital, 04/06/2016)