(G1/PE, 10/06/2016) Casos de discriminação acontecem diariamente segundo relatos das mães. Nesta sexta, elas protestaram nas imediações do Parque 13 de Maio
Além das dificuldades diárias para tentar oferecer aos filhos o melhor tratamento e acompanhamento possíveis, mães de bebês com microcefalia têm enfrentado um problema ainda mais grave em sua luta cotidiana: o preconceito. No Recife, capital do estado com o maior número de ocorrências registradas da malformação no país, mulheres relatam a ocorrência cada vez mais constante de casos de discriminação e até de agressão. Cansadas, resolveram protestar. Na tarde desta sexta-feira (10), um ato foi realizado nas imediações do Parque 13 de Maio, na área central do Recife.
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A maioria dos casos acontece, segundo as mães, quando estão a caminho ou voltando do tratamento dos filhos. Geisyelle Brandão, mãe de João Miguel, de apenas 6 meses, diz ter passado por constrangimentos em um ônibus que utiliza diariamente para levar o filho ao médico.
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“Foi triste, inacreditável. Queria subir no ônibus para ir para casa depois de uma rotina de hospital cansativa e um senhor não queria deixar que eu subisse no ônibus porque, para ele, meu filho iria passar alguma doença. Disse que ele era um ser abominável, um demônio e que meu filho tinha sido uma praga. (…) Ele disse que se eu entrasse junto no coletivo com ele, ele não subiria. A gente teve uma discussão dentro do ônibus, eu e esse senhor, e eu tive que descer para ele continuar o seu trajeto.
Segundo Geisyelle, a mesma pessoa chegou a agredi-la em outra ocasião. “Logo que botei o pé para subir, ele me imprensou na porta do coletivo e começou a me agredir com cotoveladas e socos e disse que eu não iria subir com esse demônio dentro do ônibus. Ele gritava, com palavras baixas, discriminando meu filho, chamando meu filho de bicho, de filho do capeta (…). Em momento nenhum ninguém fez nada. Nem os passageiros que estavam lá me defenderam, nem motorista, nem cobrador, ninguém. E infelizmente eu frequentemente pego ônibus com esse senhor”, salientou.
Durante o ato realizado na tarde desta sexta, o grupo aproveitou um sinal vermelho, ao lado do Parque 13 de maio, para pedir o fim do preconceito. “Isso é algo diário. Somos vítimas de preconceito diário e estamos nos impondo perante a sociedade, diante das autoridades para mostrar que exigimos respeito. Isso é uma deficiência moral da sociedade, não são nossos filhos que têm que se enquadrar no que a sociedade impõe de normalidade, ela que tem que aceitar e respeitar os nossos filhos. Eles são deficientes sim, têm algumas necessidades sim, uns vão se desenvolver mais, outros menos, mas a microcefalia é uma doença como a diabete, a pressão alta ou qualquer outra”, ponderou Germana Soares, presidente da União de Mãe de Anjos (UMA).
Pernambuco lidera
Segundo último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, o número de casos confirmados de microcefalia no Brasil chegou a 1.551. Ao todo, foram 7.830 notificações desde o início das investigações, em 22 de outubro, até 4 de junho. Segundo a pasta, 3.262 casos foram descartados e outros 3.017 casos ainda estão sendo investigados.
O estado com maior número de casos confirmados ainda é Pernambuco, com 363 casos, seguido da Bahia, com 252, e da Paraíba, com 136. Desde 22 de outubro, houve 310 notificações de mortes por microcefalia ou outras alterações no sistema nervoso central durante a gestação ou após o parto. Deste total, 69 óbitos foram confirmados para microcefalia e alterações do sistema nervoso central, 44 foram descartados e 127 continuam sob investigação.
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