(Folha de S.Paulo, 19/06/2016) A advogada Virgínia Raggi, de 37, foi eleita prefeita de Roma, neste domingo (19), vitória que representa um duro golpe para o governo de Matteo Renzi.
Com 80% das urnas apuradas, a candidata do partido anti-establishment Movimento 5 Estrelas (M5S) aparece com 67,2% dos votos, bem à frente de Roberto Giachetti, apoiado pelo Partido Democrático (PD, centro-esquerda) de Renzi. No primeiro turno, Virgínia obteve 35% dos votos.
À imprensa, Raggi disse que este é “um momento histórico que marca uma virada: pela primeira vez, uma mulher chega à prefeitura de Roma, em uma época na qual a igualdade de oportunidades continua sendo uma quimera”.
Ela se comprometeu a “devolver legalidade e transparência às instituições, depois de 20 anos de abandono e de Roma Capital”, referindo-se a uma rede de corrupção revelada em 2014 na capital italiana.
“Agora é trabalhar, há tantos problemas, [mas] estou pronta para governar”, acrescentou.
O M5S foi fundado pelo humorista Beppe Grillo em 2009.
FORA DA CAPITAL
Em Turim (noroeste da Itália), outra novata do MS5, Chiara Appendino, 31, destronou com cerca de 54% o prefeito em final de mandato Piero Fassino, do PD.
“Fizemos história”, comemorou Chiara, em sua conta no Twitter.
Já em Milão (norte), a capital econômica do país, o candidato do PD Giuseppe Sala venceu a disputa com mais de 51% dos votos, segundo resultados quase definitivos.
O partido de Renzi manteve Bolonha (centro do país), um histórico reduto eleitoral da esquerda, mas, em Nápoles, a sigla sequer chegou ao segundo turno. Lá, o prefeito em final de mandato, Luigi De Magistris, um atípico político de esquerda e inimigo de Renzi, voltou a ser o mais votado.
Na última sexta-feira (17), De Magistris anunciou a fundação de um novo movimento de esquerdas, após as eleições.
“Hoje é algo muito especial. Temos a sorte de ter alguém novo que poderá mudar as coisas. Todos os outros fracassaram. Espero que eles consigam”, disse à AFP o aposentado Aldo, de 72 anos, que votou no M5S em Roma.
Há semanas, Matteo Renzi tenta minimizar o impacto do já esperado mau desempenho de seu partido nas eleições municipais, garantindo que seu único objetivo é o referendo de outubro sobre a reforma constitucional. O primeiro-ministro já anunciou que, em caso de derrota nessa consulta, renunciará ao cargo.
Os resultados deste domingo (19) devem confirmar o avanço do M5S, movimento que se tornou, em 2013, o segundo maior partido da Itália, com 25% dos votos nas eleições legislativas. Seu discurso de denúncia sistemática da corrupção política continua a angariar adesões.
RUPTURA
A denúncia da corrupção foi a palavra de ordem da campanha de Virgínia Raggi. Ela não divulgou, porém, muitos detalhes de seu programa para reduzir a enorme dívida da cidade (12 bilhões de euros). Tampouco antecipou nomes de sua futura equipe.
Essa última questão é essencial, já que o M5S não conta com políticos veteranos, o que já se notou em sua gestão das cidades onde governa, como Parma, ou Livorno.
Nos últimos dias, a imprensa italiana criticou Virgínia por não ter declarado receitas provenientes de consultorias, o que a candidata nega.
“Não sabem mais como me atacar. Já esclareci. Está tudo declarado”, afirmou ela.
Essas eleições “deixarão uma marca na política italiana, uma marca de descontinuidade e uma possível ruptura do sistema”, afirmou no sábado (18), em um editorial, o diretor do jornal “La Repubblica”, Mario Calabresi.
Com o M5S, “elegeram-se as caras novas e a simpatia, considerou-se a inexperiência como o maior valor. E se associou à esperança”, completou, comparando seus militantes com passageiros que assumem o controle de um avião em protesto pelos atrasos nos voos e pelos benefícios dos pilotos.
Acesse o PDF: Italianos elegem primeira mulher para prefeitura de Roma (Folha de S.Paulo, 19/06/2016)