(Nexo, 20/06/2016) Segundo pesquisadores, novos casos devem continuar a aparecer, por isso médicos devem examinar bebês cuja mãe teve suspeita de contato com o vírus mesmo quando não houver microcefalia.
Em artigo publicado no dia 7 de junho na renomada revista “The Lancet”, pesquisadores brasileiros descreveram o caso de um bebê sem microcefalia, mas com lesões graves na retina e no cérebro causadas pelo vírus zika.
Até então, esse tipo de lesão havia sido encontrado apenas em bebês com microcefalia, quando o cérebro do feto não cresce dentro do normal.
A má formação é um dos sinais da chamada síndrome congênita do zika, decorrente da contaminação da mãe durante a gravidez pelo vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Ela está relacionada também a problemas auditivos, problemas visuais, convulsões e dificuldade de digerir dos bebês.
Hospitais têm, como regra, detectado a microcefalia para depois testar as crianças para outros problemas relacionados a essa síndrome.
O novo estudo, realizado por cientistas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da Fundação Altino Ventura, de Pernambuco, defende que esse protocolo seja revisto.
Ele encontrou problemas neurológicos e na retina em um bebê que nasceu com 38 semanas de gestação, 3,5 quilos e perímetro do crânio de 33 centímetros – tamanho considerado normal para a idade. A descoberta estabelece que:
O bebê teve confirmada a presença de infecção por zika. Não foram detectadas nele ou na mãe toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes, HIV ou dengue.
Os médicos encontraram calcificação cerebral e lesão grave na retina.
Isso mostra que problemas neurológicos relacionados ao zika podem ocorrer em crianças que não nasceram com microcefalia.
Em entrevista à “Revista Fapesp”, Rubens Belfort, professor da Escola Paulista de Medicina, ligada à Universidade Estadual Paulista, e coautor do estudo afirmou que o bebê começou a ter convulsões alguns dias após o nascimento.
Novos critérios de diagnóstico#
Os cientistas recomendam que a microcefalia deixe de ser um critério para a triagem e testes óticos passem a ser realizados em qualquer bebê com suspeita de infecção por zika. “Problemas oculares podem ser subdiagnosticados se a microcefalia continuar a ser um critério [para os testes]”, afirmam.
“É necessário testar as mães para o zika durante o pré-natal e, quando der positivo, acompanhar as crianças após o nascimento e fazer a oftalmoscopia [exame capaz de encontrar lesões na retina]”, afirmou Belfort à “Revista Fapesp”.
Belfort afirmou também que casos semelhantes estão sob avaliação e devem ser confirmados em breve. “Resolvemos já divulgar este primeiro para a informação científica circular mais rápido.”
André Cabette Fábio
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