(O Estado de S. Paulo, 24/06/2016) Pesquisadores acreditam que caso identificado em Campina Grande seja o primeiro no Brasil; criança de 12 dias está internada em UTI.
Resultados de exames feitos na Paraíba confirmam a transmissão de chikungunya da gestante para o feto. Pesquisadores dizem desconhecer qualquer precedente similar no País. Trata-se de um bebê de 12 dias que apresentou fortes convulsões e agora está internado em uma unidade de terapia intensiva na cidade de Campina Grande.
O alerta foi dado por pediatras do Hospital Municipal da Criança e confirmado pela equipe da obstetra Adriana Melo, médica também responsável pela identificação do vírus zika no líquido amniótico de dois fetos com microcefalia em 2015.
O exame foi realizado em Campina Grande por pesquisadores do Instituto Paraibano de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (Ipesq), da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (Facisa) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Outros dois casos na cidade estão em investigação pelo grupo de pesquisa liderado por Adriana.
Já havia relatos de casos de transmissão de chikungunya da mãe para o bebê durante a gestação na literatura mundial, afirma Adriana. Ela diz desconhecer, no entanto, casos dessa transmissão comprovados no Brasil. O exame realizado para identificar traços do vírus foi feito tanto no bebê quanto na mãe.
O resultado reforça o alerta para gestantes, que devem adotar medidas de proteção contra o Aedes aegypti, mosquito vetor de zika, dengue e chikungunya, ao longo de todo o período da gestação. “Enquanto o maior risco de transmissão do zika ocorre nos primeiros três meses de gravidez, no caso de chikungunya ocorre o oposto. A transmissão para o feto geralmente acontece quando a mãe adoece já no fim da gestação”, afirma o pesquisador Rivaldo Cunha, da Fundação Oswaldo Cruz.
O pesquisador observa que casos de transmissão vertical já foram relatados em uma epidemia na Ilha Réunion, no Oceano Índico, durante os anos de 2005 e 2006. Cunha relata que a transmissão, quando ocorre, pode levar o bebê a ter problemas graves de saúde. “Não há casos de má-formação. O que ocorre são problemas depois, relacionados à ação do vírus no sistema nervoso”, diz a médica.
As convulsões, de acordo com Adriana, são resultado de meningite. “O vírus provoca problemas neurológicos, levando a esse tipo de reação.”
Atenção. O alerta é ainda mais importante quando se leva em conta a circulação do vírus no País. O chikungunya está presente em todas em todos os Estados e no Distrito Federal. Até maio, haviam sido contabilizados quase oito vezes mais infecções do que o identificado no mesmo período do ano passado, quando 11.216 casos foram informados.
Além do aumento de casos, há uma elevação expressiva do número de mortes relacionadas à doença – algo que, antes da experiência do Brasil, era considerado muito raro. Em Pernambuco, foram confirmadas 22 mortes. Uma reunião de emergência foi realizada há dois meses para definir estratégias de investigação sobre esses casos. Uma equipe foi enviada para Pernambuco.
Procurado, o Ministério da Saúde, em nota, afirmou que a infecção pela febre chikungunya em mulheres grávidas, especialmente no final da gravidez, pode ocorrer e ocasionar o nascimento de bebês com a infecção. A pasta afirmou acompanhar e incentivar os estudos sobre essa possível transmissão vertical.
A equipe de Adriana Melo foi a primeira a identificar traços de vírus zika no líquido amniótico de bebês com microcefalia. A descoberta foi um importante passo para reforçar a relação – hoje já tida como certa – entre o vírus e a epidemia de nascimentos de crianças com a má-formação no Brasil.
Dados do último boletim epidemiológico mostraram a confirmação de 1.616 bebês com microcefalia; outros 3.007 estão sob investigação.
Lígia Formenti – O Estado de S. Paulo
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