(O Estado de S. Paulo, 30/06/2016) O Ministério da Saúde avalia novas mudanças nos critérios utilizados para identificar os casos de microcefalia e outros efeitos do vírus da zika em bebês recém-nascidos.
Agora, a ideia é que sinais e sintomas de possíveis danos neurológicos sejam também incluídos como critérios de triagem de bebês, mesmo que não haja suspeita de microcefalia.
A alteração ocorre após um estudo publicado na revista “Lancet” nesta quarta-feira (29) mostrar que um em cada cinco bebês com infecção “provável” ou confirmada pelo vírus da zika e com danos neurológicos não tinham microcefalia –quadro definido pelo perímetro menor da cabeça do que o esperado ao nascer.
A pesquisa analisou dados e resultados de exames de 1.501 recém-nascidos investigados pelas secretarias de saúde entre novembro de 2015, mês com o maior número de notificações de suspeitas de microcefalia, e fevereiro deste ano. Destes casos, 899 foram descartados para possíveis danos neurológicos e infecções por zika. Outros 602 ganharam novas classificações em categorias como definitiva, altamente provável, provável e pouco provável para o zika.
Alertado em outubro pela secretaria de saúde de Pernambuco sobre o aumento de casos de microcefalia, o Ministério da Saúde decidiu inicialmente adotar o critério de 33 cm para identificar casos suspeitos de microcefalia. Com isso, bebês que tinham perímetro cefálico igual ou menor do que essa medida entraram na classificação e passaram a ser investigados. Meses depois, o critério foi alterado. Passou a 32 cm e, em seguida, para igual ou menor que 31,9 cm, no caso de meninos, e menor ou igual a 31,5 cm, no caso de meninas.
Segundo a pasta, a adoção de definições “mais sensíveis” em um primeiro momento foi o que permitiu verificar na pesquisa que até 20% dos bebês classificados como confirmados ou prováveis para a chamada “síndrome de zika congênita” apresentavam a medida da cabeça em padrões considerados normais.
“Há um grande percentual que não tem a cabeça pequena. Isso muda um pouco essa ideia de que zika é só microcefalia”, diz o pesquisador Cesar Victora, da Ufpel (Universidade Federal de Pelotas), um dos autores do estudo.
NOVO PROTOCOLO
Para o ministério, que participou da pesquisa, o estudo confirma que os critérios hoje utilizados –que incluem a suspeita de microcefalia pela medida da cabeça e relatos de manchas vermelhas na gestação– são “insuficientes” para identificar as consequências de uma possível infecção pelo vírus. Seria preciso, assim, alertar os profissionais de saúde para verificar sinais de problemas neurológicos durante o desenvolvimento do bebê.
“Com base neste achado, o Ministério da Saúde já está estudando a adequação do atual protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central”, diz a pasta, em nota.
Outra possibilidade, diz Victora, é ampliar a oferta de exames oferecidos aos bebês em municípios com alto número de casos de infecção por zika.
A pesquisa aponta ainda que infecções pelo zika no terceiro trimestre da gravidez, ou seja, mais próximas ao fim da gestação, também podem estar associadas a alterações no cérebro de bebês, muitos com tamanho normal da cabeça.
Desde o início das investigações, em outubro de 2015, até o dia 25 de junho, já foram notificados 8.165 casos de suspeita de microcefalia no país.
Destes, 1.638 já foram confirmados para microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central, segundo balanço divulgado pelo ministério nesta quinta-feira (30). São casos que, além de apresentarem alterações no cérebro em exames, sugerem uma infecção ainda na gestação.
O ministério diz considerar que a maioria dos casos esteja relacionado a uma infecção pelo vírus da zika.
Outros 3.466 casos foram descartados após exames. Os demais permanecem em investigação.
Natália Cancian de Brasília
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