(Folha de S.Paulo, 14/07/2016) Diante da erupção da zika e dos números recordes da dengue no ano passado, o vírus da febre chikungunya acabou ficando em segundo plano entre as arboviroses que infestam o país.
O patógeno, até ali, circulava em apenas cerca de cem municípios de menos da metade dos Estados e apresentava uma quantidade de casos modesta.
A situação, contudo, alterou-se radicalmente nos últimos meses. A doença espalhou-se pelo país e atingiu grandes centros.
Segundo o Ministério da Saúde, de janeiro a maio foram reportadas cerca de 120 mil ocorrências suspeitas da moléstia —ante 38 mil em todo o ano passado—, a quase totalidade nos Estados do Nordeste. O número de casos já confirmados monta a 30 mil; em 2015, não passaram de 13 mil.
Trata-se de uma enfermidade que, assim como a dengue e a zika, é transmitida pelo famigerado mosquito Aedes aegypti. Não há tratamento específico para a doença, apenas o combate aos sintomas —febre alta e dores intensas nas articulações, entre outros—, que geralmente duram de três a dez dias.
Em parte dos casos, as dores persistem após o fim da enfermidade, produzindo quadros crônicos. No município de Feira de Santana (BA), um dos mais atingidos, cerca de um terço dos infectados desenvolveu tais sequelas.
Como se não bastasse, acumulam-se casos de mortes relacionadas à chikungunya —dado que surpreende e preocupa, pois a enfermidade é conhecida por ser fatal em raríssimos casos.
De acordo com levantamento realizado pelo portal UOL (empresa do Grupo Folha), o Nordeste já registrou 45 mortes associadas ao vírus —há ainda pelo menos outras duas vítimas no Rio de Janeiro. O número é quase oito vezes o reportado durante 2015.
Uma das hipóteses aventadas para as mortes é o uso indiscriminado de anti-inflamatórios e corticoides, de venda livre no Brasil, para o tratamento das fortes dores.
Na fase aguda da doença, tais drogas podem agravar o quadro clínico de pessoas já debilitadas e até comprometer o sistema imunológico. Recomenda-se somente o uso de analgésicos, e sempre sob prescrição médica.
Apenas uma investigação detalhada, entretanto, será capaz de estabelecer as verdadeiras causas dos mortes —e o número de casos, embora elevado para os padrões da febre viral, permite que uma força-tarefa cumpra rapidamente esse objetivo. É urgente determinar se o vírus de fato está mais letal ou se há outros fatores em ação.
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