(SRZD) Hoje, 60 anos depois do primeiro beijo na boca na teledramaturgia brasileira, que sequer foi registrado por ter sido considerado uma imoralidade, outro beijo, entre duas mulheres, volta a provocar controvérsia. O já famoso beijo na boca entre Marcela e Marina (Luciana Vendramini e Giselle Tigre) será exibido em “Amor e Revolução”, do SBT.
Para o autor Tiago Santiago, mostrar uma cena de beijo entre duas pessoas do mesmo sexo ajuda a combater a homofobia e a promover a aceitação. “Tudo o que é humano e realista me interessa em uma novela. Felizmente, recebi total liberdade do Silvio Santos para discutir o tema que eu quiser com naturalidade e transparência”, assegura Tiago.
Glória Perez parabeniza o colega pela iniciativa. “Que bom que alguém fez. Já estava mais do que na hora!”, afirma. Em 2005, Glória bem que tentou, mas não conseguiu. O beijo entre Júnior e Zeca (Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro) em “América” chegou a ser gravado e regravado (sete vezes), mas nunca foi ao ar. Na ocasião, o corte gerou protestos por parte de grupos ligados ao movimento GLBT. “O que posso garantir é que a cena ficou linda e bastante delicada”, lembra a autora.
Beijos vetados
O beijo gay de “América” pode até ter sido o primeiro, mas não foi o último a ser vetado na Globo. Na novela “Duas Caras”, de Aguinaldo Silva, Bernardinho e Carlão (Thiago Mendonça e Lugui Palhares) puderam assinar um contrato de união civil estável, mas jamais conseguiram selar esse compromisso com um beijo. Na série “Clandestinos – O Sonho Acabou”, de João Falcão, o beijo trocado entre Hugo e Fábio (Hugo Leão e Fábio Henriquez) também foi gravado, mas nunca exibido. Para azar da emissora, a cena caiu no YouTube.
Em 2003, Manoel Carlos teve mais sorte. Para retratar uma singela “bitoca” entre duas mulheres, lançou mão de um truque interessante: uma peça de teatro. Em “Mulheres Apaixonadas”, Clara e Rafaela (Alinne Moraes e Rafaela Picarelli) estavam interpretando a fatídica cena de Romeu e Julieta quando, finalmente, se beijaram. “Acho essa discussão ultrapassada. Pessoalmente, não acho que o beijo gay faça falta ou acrescente algo à ficção”, avalia Maneco.
“Segundo dados prévios do Ibope, o momento do beijo deu à emissora seis pontos de audiência. O número corresponde a apenas um ponto a mais do que a média que a novela tem obtido no horário -média essa que se manteve inclusive no capítulo de quarta, que terminou com o encontro das duas personagens.”
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“(…) o SBT deu um tapa de luva militar na católica Globo e na evangélica Record ao colocar no ar um capítulo da história da teledramaturgia no país” – Beijo gay do SBT foi tapa na Globo e na Record, por Vitor Angelo (Folha de S.Paulo – 14/05/2011)
Beijo gay adiado foi ao ar ontem à noite na novela do SBT (Folha de S.Paulo – 13/05/2011)
Autores de TV debatem sobre o primeiro beijo gay da telenovela brasileira (SRZD – 11/05/2011)