(Folha de S.Paulo) No dia 13 de maio, a seção Tendências/Debates publica artigo assinado pela ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República. Leia trechos selecionados:
“No início do século 20, eram frequentes os prognósticos sobre o desaparecimento da população negra, que supostamente não sobreviveria ao século.”
“Mais tarde, ao se debruçar sobre os resultados do Censo de 1940, Guerreiro Ramos considerou “patológico” o desequilíbrio nas respostas ao quesito cor, tendentes, em sua esmagadora maioria, a sobrevalorizar a cor branca.”
“Na contramão dessa tendência, os dados censitários de 2010, há pouco divulgados, confirmam o que já se delineava no Censo de 2001: iniciativas de valorização da identidade, com origem nos movimentos negros e hoje em processo de institucionalização, asseguraram a maioria negra em uma população que ultrapassa 190 milhões de brasileiros.”
“Hoje, temos uma sólida base de dados, que mostra reiteradamente que mulheres e homens negros estão entre os brasileiros mais vulneráveis, numa proporção muito maior do que sua presença relativa na população total.”
“Por isso, a priorização da erradicação da pobreza extrema pelo governo da presidenta Dilma abre possibilidades inéditas de abordar rica e diversificada experiência humana, que ainda precisa ser considerada em toda a sua amplitude.”
“Assim, no atendimento a direitos básicos que articulam renda, acesso a serviços e inclusão produtiva, é preciso tornar visíveis e valorizar dimensões da pessoa e do universo afro-brasileiro que desempenham papel decisivo na conquista da autonomia. Todos somos humanos, e a resistência aos processos desumanizadores do racismo é, de longe, a maior contribuição dos negros à cultura brasileira.”
Leia o artigo completo em pdf: A pobreza e a cor da pobreza, por Luiza Bairros (Folha de S.Paulo – 13/05/2011)
A ministra Luiza Bairros concedeu entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em que fala sobre cotas, 13 de maio e o programa Brasil sem miséria. Leia partes da entrevista abaixo:
A senhora tem sido ouvida nas conversas sobre o programa Brasil Sem Miséria, que deve ser lançado nos próximos dias?
Participamos de reuniões com o Ministério do Desenvolvimento Social. A nossa preocupação foi sempre no sentido de que se deve ir além do diagnóstico de que os negros constituem a maioria dos miseráveis. Para nós, o fato de a maioria dos miseráveis identificados pelo governo serem negros tem que ser traduzido nas ações do programa. Sugerimos que seja explicitado que as categorias que serão prioritariamente beneficiadas são formadas por pessoas negras. É importante deixar isso explícito, considerando que existe certa tendência no Brasil de se naturalizar a presença de negros na condição de pobreza. Ela não causa estranheza porque existe um pressuposto, alimentado pelo racismo, de que os negros são pessoas sem capacidade e sem força de vontade, além de uma série de outras imagens negativas.
As cotas têm sido muito criticadas. Como vê essa reação?
Era esperada, porque a sociedade conviveu por muito tempo com a desigualdade e, como já disse, passou a achar natural. O que sustenta a permanência da desigualdade racial no Brasil é justamente o fato de pessoas acharem que negros e brancos não são iguais, que não têm a mesma capacidade. Sob esse ponto de vista é mais fácil manter a sociedade do jeito que sempre foi do que criar condições para mudanças. O que deve ficar evidente, por outro lado, é que estamos passando por processos de transformação profundos. O fato de o último censo demográfico ter demonstrado que a população negra ultrapassou a metade do total de brasileiros é emblemático.
Existem coisas para serem comemoradas neste 13 de Maio?
Na questão racial, a cada patamar alcançado aparecem novas contradições. É por isso que muitas vezes surge a sensação de que continuamos no mesmo lugar. Hoje, ao mesmo tempo que celebramos o fato de a população negra constituir maioria no Brasil, convivemos com esse cenário no qual mais de 70% dos miseráveis são negros.
Existem problemas também para os negros em situação econômica melhor. Na iniciativa privada, ganham menos e enfrentam maiores dificuldades.