(Brasil de Fato, 11/08/2016) Com ou sem medalhas, mulheres negras destacam-se nas Olimpíadas 2016 por vencer processo histórico excludente
Na última terça (9), após a vitória da judoca Rafaela Silva, as redes sociais foram tomadas por depoimentos de mulheres negras celebrando a vitória da jovem de 24 anos.
A atleta, que é negra, pobre, lésbica e nascida na Comunidade carioca Cidade de Deus, sofreu duros ataques racistas em 2012, por conta da sua derrota nas Olimpíadas de Londres.
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Durante coletiva de imprensa, após ganhar a primeira medalha de ouro do Brasil, disparou: “Posso servir de exemplo para as crianças da comunidade porque, só de você ser negra, já é malvista na rua”.
No país que forjou sua identidade no mito da democracia racial, falar de racismo e formas de superação ainda não é tarefa fácil. No esporte, por exemplo, muitos atletas evitam o tema para não atrair a antipatia do público.
“O esporte já é um lugar que a sociedade não considera próprio para mulheres, exceto modalidades tida como femininas, como ginástica, por exemplo. E, para mulheres negras, esse acesso é ainda mais restrito por uma série de fatores sociais. A questão não é o talento e sim as condições desfavoráveis para que grandes talentos possam acontecer”, comenta a arquiteta ativista negra, Joice Berth.
Em diferentes momentos, outras atletas se posicionaram, como a nadadora Etiene Medeiros em entrevista à Carta Capital no ano passado. “Muita gente diz que isso [racismo] não existe, mas é claro que pesa. Natação é um esporte caro e, para praticar, é preciso ter acesso a lugares aos quais a população negra tem dificuldade de chegar”.
A levantadora da seleção de vôlei e bicampeã olímpica, Fabiana Claudino, foi a primeira a carregar a tocha que abre os Jogos em maio deste ano.
“Eu me sinto honrada principalmente por ser negra e ter uma oportunidade de mostrar ao mundo que estamos ali, fazendo parte da história e construindo algo maior. De mostrar a todos que nós, negros, somos capazes, mas às vezes nos faltam oportunidades”, afirmou na época ONDE.
Os Jogos Olímpicos de 2016 têm a maior porcentagem de mulheres atletas da história até agora: são mais de 45%. Mas as negras não são a maioria e estão ausentes em diversas modalidades, como canoagem, hipismo, tênis e vela.
Como ocupar espaço é garantir representatividade para uma importante parcela da população, o Brasil de Fato listou a algumas das mulheres negras dos Jogos Olímpicos que, com ou sem medalha, vencem e sobrevivem a despeito do racismo e machismo.
Atletismo
Rosângela Santos – velocista já ganhou diversas medalhas, foi ouro nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara em 2011.
Kauzia Venâncio – a velocista de alto rendimento nas provas dos 100, 200 metros está participando de sua primeira Olimpíada.
Badminton
Lohaynny Vicente – Atleta de 20 anos, carioca. No ano passado, ganhou a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Toronto ao lado da irmã.
Boxe
Adriana Araújo – em sua estreia durante a Olimpíada de Londres 2012, foi a primeira brasileira a vencer uma luta olímpica e ganhou a medalha de bronze.
Esgrima
Ana Beatriz Bulcão – foi a primeira brasileira a estar entre as seis melhores do mundo no ranking mundial 2012/2013.
Ginastica artística
Rebeca Andrade – em 2012, com apenas 13 anos e em seu primeiro campeonato como profissional, Rebeca se tornou campeã do Troféu Brasil de Ginástica Artística.
Lorrane Oliveira – foi medalha de ouro nas barras assimétricas e no solo durante o Campeonato Brasileiro de Ginástica Artística 2015.
Judô
Érika Miranda – disputa na categoria peso meio leve. Nos Jogos Pan-Americanos de 2007 e 2011, conquistou a medalha de prata da modalidade. Na edição de 2015, obteve a medalha de ouro.
Maria Suelen Altheman –– peso meio pesado. Em 2011, nos Jogos Pan-Americanos de 2011, ganhou a medalha de bronze. Por duas vezes foi vice-campeã mundial, no Rio de Janeiro 2013 e em Cheliabinsk 2014.
Levantamento de peso
Rosane dos Reis – Foi medalha de ouro no Campeonato Sul- Americano de 2015 e 2016. Com os resultados, saiu do 39º para o 16º lugar no ranking mundial.
Luta Olímpica
Aline Ferreira – está entre as cinco melhores do planeta na modalidade. Ela foi a primeira a conquistar uma medalha na história da Luta Olímpica brasileira no Campeonato Mundial, em 2014.
Joice Silva – Foi uma das representantes do país nos Jogos Pan-Americanos de 2011, em Guadalajara, no México. Durante o Pan-Americano realizado em Toronto, Canadá, a lutadora ganhou a medalha de ouro, na categoria de até 58 quilos.
Gilda Maria de Oliveira – foi campeã no Campeonato Brasileiro 2015, e ficou na 5ª colocação no Pan-Americano 2015.
Natação
Etiene Medeiros – É recordista mundial e primeira mulher brasileira a ser medalhista nos mundiais júnior em piscinas curta e longa. Também foi a primeira brasileira a ganhar o ouro da natação dos Jogos Pan-Americanos.
Tiro com arco
Ane Marcelle dos Santos – Nenhum brasileiro chegou tão longe no torneio olímpico de tiro com arco quanto Ane Marcelle dos Santos. Ela se garantiu nas oitavas de final e figura entre as 16 melhores do mundo na prova individual.
Juliana Gonçalves
Acesse no site de origem: “Lute como uma mulher negra”: 15 atletas para conhecer e celebrar (Brasil de Fato, 11/08/2016)