(Estadão, 16/08/2016) Numa reação política aos protestos celebrizados como #Oscarsowhite, em referência crítica à ausência de atores negros em competição na cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood este ano, filmes protagonizados por afro-americanos ou centrados em questões raciais se tornaram o principal alvo de investimento da indústria audiovisual dos EUA, na seara adulta. Basta uma olhada na lista de potenciais concorrentes a prêmios elencada pelas principais revistas e sites de lá (como a Variety ou o Awards Daily) para perceber o peso (mais dos que necessário) dado ao debate sobre exclusão/inclusão pelas vias da cor. A bola da vez é Hidden Figures, no qual Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe interpretam um trio de operativas da Nasa, nos anos 1950, responsáveis pelo levantamento e pela filtragem de dados que garantiram a corrida espacial para os Estados Unidos. Com estreia marcada para 13 de janeiro lá fora e 23 de fevereiro aqui, o longa-metragem é dirigido por Theodore Melfi, de O Santo Vizinho (2014), com Bill Murray.
Com o trailer já no ar na web (aliás, um dos mais acessados), Hidden Figures resgata a colaboração de três matemáticas – Dorothy Vaughn (Octavia), Mary Jackson (Janelle) e Katherine Johnson (Taraji) – para a missão que garantiu o primeiro voo tripulado dos americanos ao espaço, envolvendo o astronauta John Glenn (vivido por Glen Powell). O filme é delas, das mulheres, mas há um grande papel masculino: o do cientista Al Harrison, um dos cabeças da Nasa, que foi confiado a Kevin Costner. Se essa produção seguir bombando na internet, angariando um boca a boca positivo prévio, serão fortes as chances de Costner ser indicado a um Oscar de coadjuvante. Aliás, falando nessa categoria, a imprensa dos EUA em peso encara o inglês Hugh Grant como um possível concorrente ao prêmio de best supporting actor por seu desempenho (notável) em Florence: Quem É Esta Mulher?, de Stephen Frears, recém-lançado lá.
Seguindo na reflexão sobre a ampliação de visibilidade para atores negros nos prêmios do cinema, Eddie Murphy, o eterno Tira da Pesada, vive hoje em céu de brigadeiro por conta dos elogios que vem cercando seu trabalho em Mr. Church, de Bruce Beresford. O diretor de Conduzindo Miss Daisy (1989) põe o ator nas veredas do drama, na pele de um cozinheiro, fã de jazz e de clássicos da Literatura, que ajuda uma garotinha loura a crescer, em meio ao calvário afetivo causado pela doença terminal da mãe da menina.
E segue forte a badalação em torno da atriz Ruth Negga em Loving, do talentoso Jeff Nichols, sobre um casal (ela e Joel Edgerton) acossado pela Lei, na América dos anos 1950, em proibição a casamentos interraciais. Por fim, temos The Birth of a Nation, de (e com) Nate Parker, que estrela um violento libelo contra o racismo, no papel de um escravo transformado em pastor para guiar as almas da senzala.