(Extra, 18/08/2016) A morte de uma jovem de Serra Leoa durante um procedimento de mutilação genital feminina (FGM, na sigla em inglês) realizado por uma sociedade secreta administrada por mulheres deveria levar a nação do oeste africano a proibir a prática, disseram ativistas anti-FGM nesta quinta-feira.
Fatmata Turay, de 19 anos, morreu no início desta semana depois de ser submetida a uma FGM como parte dos ritos de iniciação para ser admitida na Bondo, uma sociedade poderosa que realiza o procedimento e que exerce uma influência política considerável, de acordo com vários ativistas.
Três integrantes da sociedade Bondo e uma enfermeira foram presas. Grupos de direitos humanos que fazem campanha contra a FGM, incluindo o FORWARD e o Equality Now, exortaram Serra Leoa a realizar uma investigação minuciosa sobre a morte de Fatmata e proibir a prática.
Serra Leoa tem uma das taxas mais altas de FGM no mundo –nove de cada 10 mulheres e adolescentes são vitimadas, de acordo com dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, na sigla em inglês).
“Esta é uma morte desnecessária –muitas vidas são arruinadas pela FGM”, disse Adwoa Kwateng-Kluvitse, do FORWARD, acrescentando que não está claro quantas mulheres e meninas morrem em decorrência da FGM em Serra Leoa.
“Há muitas meninas em áreas rurais que podem ter morrido e sido enterradas sem que ninguém tenha tomado conhecimento”, acrescentou.
Estima-se que a FGM afeta 140 milhões de mulheres e meninas em uma faixa da África e em partes do Oriente Médio e da Ásia e é vista como um caminho para o casamento e uma forma de preservar a pureza.
O procedimento envolve a remoção da genitália externa e causa diversos problemas de saúde que podem ser fatais.
Embora a FGM seja legal em Serra Leoa, uma proibição do governo aplicada durante o surto de Ebola, e adotada como parte de uma iniciativa de erradicação do vírus, ainda está em vigor.
No ano passado, Serra Leoa se tornou uma das últimas nações do oeste africano a ratificar o Protocolo de Maputo, que trata de uma série de temas que incluem a FGM, a violência contra as mulheres, casamentos infantis e forçados e o empoderamento econômico feminino.
“Não podemos nos dar ao luxo de continuar a deixar meninas morrerem e sofrerem discriminação e violência extrema por causa da FGM”, disse Mary Wandia, da Equality Now, à Thomson Reuters Foundation.
Nigéria e Gâmbia proibiram a prática no ano passado, mas a FGM ainda é legal na Libéria, no Mali e em Serra Leoa.
Kieran Guilbert
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