(Think Olga, 23/08/2016) Por um lado, a violência doméstica é um problema endêmico no Brasil, onde 19% da população feminina com 16 anos ou mais já sofreu alguma agressão, sendo que 31% dessas mulheres são obrigadas a continuar convivendo com o agressor, segundo uma pesquisa do Senado Federal. A violência é tão cotidiana que 54% dos brasileiros de ambos os sexos e de todas as classes sociais conhecem uma mulher que já foi agredida por um parceiro e 56% conhecem um homem que já bateu em uma mulher. Por outro, denunciar o agressor não é fácil quando a violência parte de alguém com quem a vítima mantém relações íntimas, quando o rompimento pode prejudicar o sustento da família ou colocar a vida da mulher ou de crianças em risco e quando não há uma rede de apoio para a vítima. Tendo em vista esses problemas e o fato de que mais da metade da população brasileira usa smartphones, seis mulheres tiveram a ideia de criar o Mete A Colher, um aplicativo que conecta mulheres que precisam de ajuda para saírem de relacionamentos abusivos com mulheres que estão dispostas a ajudar.
A ideia surgiu durante o Startup Weekend Women em Recife este ano, quando Emily Blyza, a idealizadora do projeto, a designer Aline Silveira, a desenvolvedora Lhaís Rodrigues, a jornalista Renata Albertim, a publicitária Thaísa Queiroz e a designer Carol Cani se encontraram e quebraram a cabeça para encontrar uma forma de ajudar mulheres através da tecnologia. Emily contou uma história que havia lhe marcado muito: havia recebido em um grupo de WhatsApp um áudio de uma mulher participante do grupo sendo agredida pelo marido. Os participantes do grupo ficaram desesperados tentando ajudar, mas não sabiam o que fazer. As seis então pensaram em usar a tecnologia para levar adiante esse tipo de denúncia, mas, após uma semana de validação do aplicativo em fase beta, concluíram que o ideal é agir antes para evitar a agressão, ajudando mulheres a saírem de relacionamentos abusivos. “Durante a fase beta, percebemos que o processo de denúncia era muito falho, há uma burocracia muito grande no processo legal, exige levar uma testemunha para a delegacia, corpo de delito e aí queremos trabalhar para que o abuso não chegue a esse ponto”, explica Lhaís.
As seis mulheres então se organizaram e formaram uma startup, Mete A Colher, e criaram um grupo no Facebook de apoio a mulheres em situação de violência doméstica, além de uma comunidade digital que conta com uma página com 32 mil seguidores e campanhas online como a #elenaotebate, que alcançou um milhão de pessoas. Conversando com mulheres em situação de violência, descobriram que elas gostavam muito de ser ouvidas e desabafar fazia toda a diferença. “A ideia original era ajudar em crises extremas mas vimos que as pequenas coisinhas que vão acontecendo em um relacionamento que geram controle e afastamento de pessoas é o que culmina na violência física. Percebemos que as mulheres estavam desamparadas, sem apoio da família e se elas tivessem um empurrãozinho, alguém dizendo ‘você não está louca, você realmente está sofrendo isso e você não precisa ficar nesse relacionamento’ já fazia toda a diferença”, diz Aline.
No aplicativo, será possível se cadastrar como alguém que queira ajudar mulheres ou que precise de ajuda, embora uma vez cadastrada seja possível fazer as duas coisas. Somente mulheres poderão acessar a rede através do login no Facebook e haverá a opção de ter uma senha para acesso ao app e mensagens criptografadas que se apagam após um tempo, tornando quase impossível o acesso de terceiro às pessoas. Os pedidos de ajuda serão direcionados a mulheres que podem ajudar através de tags, divididas nas categorias apoio emocional, ajuda jurídica, inserção no mercado de trabalho e abrigo temporário. “Percebemos no nosso grupo no Facebook que as mulheres gostam de poder ser escutadas, de receber um conselho e resolvemos focar nisso porque acreditamos que assim podemos empoderar mais mulheres e não só fazer com que elas denunciem”, diz Renata.
O Mete A Colher atualmente está em campanha de crowdfunding através do projeto Mulheres de Impacto, uma parceria da Benfeitoria com a Think Olga e a ONU Mulheres, para arrecadar os 45 mil reais necessários para desenvolver o aplicativo e disponibilizá-lo gratuitamente em todo o Brasil. Você pode apoiar o aplicativo financeiramente ou compartilhando a ideia com seus amigos até dia 16 de setembro. Confira o vídeo sobre a proposta abaixo:
Acesse no site de origem: Mulheres de Impacto: unidas contra a violência doméstica (Think Olga, 23/08/2016)