O sociólogo Norbert Elias, em um livro autobiográfico, contou que escrever sua tese de doutorado foi um enorme sofrimento. Ele disse que só muito mais tarde descobriu que todos sofrem quando escrevem o primeiro trabalho; e, muitas vezes, acontece o mesmo com o segundo, o terceiro ou o décimo, quando se consegue chegar até lá. Elias escreveu:
(Folha de S.Paulo, 20/09/2016 – acesse no site de origem)
“Teria agradecido se alguém me dissesse isso na época. Eu pensava: ‘Sou o único a ter tais dificuldades para escrever uma tese; para os outros isso se dá mais facilmente’. Mas ninguém disse nada. É por isso que digo isso aqui. Essas dificuldades são absolutamente normais”.
A frase de Elias me ensinou que se eu sei que todo mundo sofre, exatamente pelas mesmas coisas que me fazem sofrer, eu consigo relativizar o meu próprio sofrimento e, consequentemente, sofrer um pouco menos.
É libertador compreender que grande parte dos nossos sofrimentos é decorrente de pressões sociais, e não de nossas incapacidades individuais.
Vivemos em uma cultura que cobra das mulheres determinados modelos de corpo, beleza, juventude e sucesso. Não é à toa que as brasileiras são as maiores consumidoras mundiais de cirurgias plásticas estéticas, medicamentos para emagrecer, ansiolíticos, remédios para dormir etc.
Devemos ser magras, jovens, sensuais, excelentes mães, esposas, profissionais etc. As pressões sociais são imensas, mas, por serem invisíveis, acreditamos que somos um verdadeiro fracasso quando não conseguimos corresponder aos modelos mais legítimos de “ser mulher”.
Descobrir que a maior parte do nosso sofrimento é compartilhada por outras mulheres é uma verdadeira libertação.
É um grande alívio saber que não estou sozinha, já que inúmeras brasileiras sentem os mesmos medos, inseguranças e vergonhas.
Só com esta compreensão passei a gostar um pouco mais da mulher que me tornei.
Hoje, sei que posso compartilhar as minhas culpas e vergonhas, que é importante dividir com outras mulheres os meus medos, que brincar com minhas inseguranças pode ser uma maneira de superar o pânico de ficar velha, feia, gorda, invisível e sozinha.
Brincar com meus medos e inseguranças me tornou mais livre e, também, um pouco mais feliz.
Você também se sente sozinha?