Muitas perguntas sobre a vagina, respondidas por cinco especialistas de prestígio
(El País, 07/10/2016 – acesse no site de origem)
Quantas vezes você já se perguntou por que tal coisa acontece? Quantas vezes se preparou para perguntar ao ginecologista quando fosse ao consultório, mas na hora H não se atreveu? Se há alguns meses propusemos a você que nunca omita nenhuma informação do especialista que trata das doenças próprias da mulher, hoje fazemos o mesmo com as dúvidas que nos assolam. Abaixo a vergonha! Mas, enquanto você reúne coragem, fizemos as perguntas no seu lugar. E cinco ginecologistas responderam.
1. É normal ter um lábio vaginal muito maior que outro?
“Certa assimetria é normal em partes do corpo como mamas ou lábios vulvares, sobretudo os menores”, responde Víctor Martín, chefe de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Quirónsalud, de Valência (Espanha). “Podemos observar mudanças em diferentes etapas da vida, na puberdade, durante a gravidez, depois do parto ou ao longo da menopausa”, porque, como recorda Adriana Paredes Ríos, ginecologista e obstetra do Hospital Geral Universitário de Valência, especialista em cirurgia reconstrutiva do assoalho pélvico, “não somos perfeitamente simétricos”.
Outra coisa seria sofrer de uma hipertrofia: que um ou ambos os lábios sejam de um tamanho exagerado. Entretanto, isso é pouco frequente. “Corrigir isso com cirurgia dependerá do incômodo físico ou estético que possa causar”, diz Martín.
“O aspecto dos genitais está ganhando cada vez mais importância, fundamentalmente por causa da moda crescente da depilação integral, que os expõe”, admite Jackie Calleja, diretor do Centro Bmum, Aravaca e Pozuelo e especialista em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Quirónsalud de Madri.
2. Depilação integral faz mal?
“Nem bem nem mal. É uma questão de estética e comodidade que não tem implicações ginecológicas”, opina Adriana Paredes Ríos. Tampouco é “mais higiênica”, contrariamente ao que se possa pensar, observa Víctor Martín. Dependendo de como se faça, “pode ocasionar feridinhas microscópicas na pele, que favorecem a entrada de germes e o surgimento de infecções”. Ele recomenda a depilação a laser em vez do uso de “cera, lâminas ou maquininhas”.
Para Jesús Grande, chefe da Seção de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital 12 de Outubro, em Madri, trata-se de uma questão de “moda” e, como seus colegas, afirma que “o pelo, em todas as partes do corpo e também nessa, protege contra agentes externos”.
“A vagina é um órgão em forma de tubo, dotado de fibras musculares que fazem com que se contraia e se relaxe, e inclusive que durante as relações sexuais aumente de comprimento” (Jackie Calleja, ginecologista e diretor do Centro Bmum)
A depilação integral elimina essa função protetora, razão pela qual torna um pouco mais frequentes as infecções vulvovaginais, “embora não sejam processos graves que deteriorem de forma notável a saúde vaginal da mulher”, observa Jackie Calleja. O ideal, segundo Carmen Menéndez, chefe de atendimento da Unidade da Mulher do Instituto Palacios de Saúde e Medicina de Mulher, é “uma depilação adequada que cubra os lábios maiores, a parte interna da vulva”.
3. Posso sentir certa excitação quando faço xixi?
“Anatomicamente, a uretra está situada na parte anterior da vagina”, explica Carmen Menéndez, do Instituto Palacios. “O complexo clitouretrovaginal (CUV) é um elemento fundamental no processo da excitação. A esponja uretral que envolve a uretra faz parte deste complexo. Esse tecido erétil, junto com o clitóris e os bulbos vestibulares [bolsinhas eréteis que preenchem os lábios maiores], intervêm de forma ativa no orgasmo feminino. Portanto, a zona da entrada da vagina, o clitóris como órgão erétil fundamental e também parte da uretra externa estão implicados de forma notável no orgasmo feminino”, prossegue Jackie Calleja, do Bmum.
Por isso, “urinar implica o estímulo de certas terminações nervosas que muitas vezes compartilham trajeto com as que se encarregam de produzir o prazer sexual. É preciso levar em conta que esse ato não deixa de ser um alívio em muitas circunstâncias, e pode ser percebido como algo libertador ou inclusive agradável num determinado momento”, acrescenta o ginecologista Víctor Martín. Além disso, “como consequência da distensão da bexiga ao aumentar muito sua capacidade e ao ser esvaziada subitamente, pode ocorrer uma sensação de alívio ou de certo prazer, já que são segregados hormônios de tipo endócrino”. Para Calleja, portanto, não é raro que num momento assim se sinta um pouco de prazer. Mas são ocasiões muito estranhas, sobre as quais não há evidência científica. “Nesses casos, a mente de cada pessoa desempenha um papel muito importante”, diz Jesús Grande, do Hospital 12 de Outubro, em Madri.
4. É normal que minha vagina sue?
“A vagina não sua, mas há glândulas sudoríparas na pele dos lábios maiores e menores, e também na pele do púbis, coxas e nádegas”, descreve a ginecologista do Hospital Geral Universitário de Valência, Adriana Paredes Ríos. Pode ser que o que pensamos ser suor, na realidade, seja um aumento de secreção do fluxo vaginal, porque tanto a vagina como o colo do útero têm umidade, sulcos mucosos e transpiração. “Conforme a fase do ciclo em que se encontre, estará mais ou menos umedecida. Nos dias que precedem a menstruação, a vagina está mais seca; perto da ovulação, mais úmida. Também dependerá de ter tido ou não relações sexuais”, observa a ginecologista e mastologista Carmen Menéndez.
5. Que posso fazer para evitar os gases vaginais durante as relações sexuais?
“Durante os encontros íntimos, pode ocorrer um relaxamento do esfíncter e é normal a expulsão de gases”, indica Jesús Grande. Pode acontecer em algumas posições específicas e com algumas mulheres. “A vagina é um órgão em forma de tubo, dotado de fibras musculares que fazem com que se contraia e relaxe, e até aumente de comprimento durante as relações sexuais, já que se ampliam as dobras e nervuras que possui”. Seria algo parecido a “esticar um acordeão”, compara o diretor da clínica Bmum, que continua explicando que determinadas posturas favorecem a entrada do ar. Em sua opinião, isso não está relacionado com “a incontinência ou fragilidade das paredes vaginais, mas é um fato normal, fruto da contração e relaxamento da parede vaginal”.
Os especialistas alertam para outras possíveis causas, como uma “hiperlassitude das paredes vaginais, sobretudo em mulheres de certa idade ou que deram à luz”. Nesses casos, os exercícios de Kegel ou bolas vaginais ajudam.
6. Se uso bolas para fortalecer o solo pélvico, eu as sentirei e me excitarei?
“Notará, perfeitamente. É uma introdução de um corpo estranho”, responde Carmen Menéndez. Ainda assim, depende da mulher. “E a excitação dependerá do momento psicológico em que sua portadora se encontre”, pondera Jesús Grande. “Se a usa como fricção, se excitará, mas não é o objetivo das esferas intravaginais [bolas chinesas de uso terapêutico]”, diz a doutora Menéndez. Tampouco seria absurdo. Os especialistas tranquilizam: “Se acontece, não há por que se envergonhar”.
7. Como posso evitar acne na minha região íntima?
“Na zona perineal [região anatômica que corresponde ao solo pélvico] há penugem e é normal que ocorra a infecção de algum folículo, formando um pequeno acúmulo de pus semelhante à acne. Isso pode ser evitado com uma boa higiene dos genitais eternos”, recomenda Jesús Grande. Se isso vai acontecer de maneira mais ou menos frequente, vai depender de cada mulher e da composição de sua pele, se é mais ou menos oleosa. Os tratamentos seriam os mesmos que em outros lugares do corpo: “Soluções limpadoras desinfectantes ou tratamentos hormonais”, aconselha Víctor Martín.
Além disso, segundo Carmen Menéndez, seria bom não usar roupa interior de tecidos sintéticos de muitas cores e evitar a depilação com máquina nos dias prévios à menstruação. Adriana Parede Ríos, por sua vez, propõe utilizar a “depilação a laser para reduzir os folículos e impedir que estes se fechem, evitar a obesidade e o sobrepeso e manter uma alimentação equilibrada”.
8. É normal que minha vagina exale mau cheiro?
“Pode ser, simplesmente, uma mudança de níveis hormonais de caráter transitório”, afirma Víctor Martín, chefe de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Quirónsalud de Valência. “Tanto o odor como o fluxo podem se modificar conforme o dia do ciclo, se a mulher usa ou não anticoncepcionais e quais, se toma remédios, conforme o parceiro sexual e até mesmo a alimentação”, acrescenta Adriana Paredes. Todos coincidem em que “a secreção vaginal não cheira” e que, quando isso acontece, “na maior parte das vezes se deve a uma infecção”, ressalta Jesús Grande, responsável pelo Setor de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital 12 de Outubro.
Se a cor do fluxo também muda, os médicos aconselham a consultar um ginecologista “porque essas infecções têm tratamento local e não representam um risco para a mulher”. Na verdade, “são muito frequentes nas mulheres em idade fértil e, portanto, simples de ser diagnosticadas e tratadas”, tranquiliza o ginecologista Jackie Calleja.
9. Por que fico lubrificada sem estar excitada?
“A lubrificação se dá pela secreção das glândulas que há na vagina e na vulva. Às vezes, o que algumas mulheres acreditam ser lubrificação é fluxo, e isso é um mecanismo de autolimpeza do aparelho genital feminino. É normal que a quantidade seja considerável e cause confusão”, explica Jesús Grande.
Essa secreção variará de acordo com o momento do ciclo. Também se a mulher toma ou não anticoncepcional. Se o faz, o normal é que “note muito mais lubrificação na metade do ciclo”, acrescenta Adriana Paredes Ríos. “A lubrificação evita a secura e, portanto, o incômodo vaginal”, observa o diretor da Bmum. “Se não acontecer dessa maneira, teremos problemas de hidratação”, diz Carmen Menéndez.