Maria Ivete Castro Boulos comandava órgão da faculdade criado em 2014 após a revelação em CPI de diversos relatos de violência sexual
(O Estado de S. Paulo, 27/10/2016 – acesse no site de origem)
Avisada somente por e-mail, com uma portaria, a médica Maria Ivete Castro Boulos foi afastada na sexta-feira, 14, do cargo de coordenadora do órgão da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp) responsável por acolher vítimas de violência sexual e formular políticas relacionadas aos direitos humanos na instituição.
Maria Ivete estava desde fevereiro deste ano à frente do Núcleo de Estudos e Ações em Direitos Humanos (Neadh), criado após a revelação em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), em 2014, de diversos relatos de estupro, e tinha mandato garantido até 2017, conforme a legislação interna da universidade. Em seu lugar, entrará o professor emérito Dario Birolini, especializado em cirurgia.
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A médica continua no órgão, mas com um cargo de “profissional da área da saúde”, que ela diz nem saber exatamente a função.
“Modificaram o núcleo e eu saí da coordenação, mas não falaram o motivo. Nem chamaram para conversar antes”, disse ela em entrevista ao Estado.
A médica disse que foi trabalhar normalmente na segunda-feira, 14, e fui surpreendida com o aviso de colegas sobre o e-mail alertando sobre as mudanças no órgão. “Todo mundo me olhou na sala”, disse.
Uma das ações de Maria Ivete à frente do cargo foi solicitar à Comissão de Direitos Humanos da USP, órgão ligado à reitoria, que impedisse um estudante do último ano, réu por estupro de uma estudante da faculdade, de realizar a última prova que precisava para concluir o curso e colar grau.
O estudante foi suspenso em 2014 após a revelação da denúncia da aluna e teve a pena prorrogada por mais 12 meses em outubro passado. Neste mês, caso não haja nova punição, ele poderá se formar. A médica disse ao Estado que pretendia pedir nova suspensão, mas que é “difícil” para a universidade admitir o episódio.
“Acho que incomodo porque converso e falo minha opinião. É muito difícil para a universidade, com esse potencial tão grande, admitir publicamente (o caso). A Unesp (Universidade Estadual Paulista) teve um caso de estupro, e eles não se orgulham disso. Mas se orgulham de ter expulsado o agressor”, afirmou.
A Fmusp, em nota, declarou que o núcleo foi “reformulado e ampliado” e que se dividiu em núcleos específicos – o de assédio e violência contra a mulher continua sob coordenação de Maria Ivete. Disse ainda que, em relação ao aluno suspenso, “segue as determinações da Procuradoria Geral da USP” e que o caso segue sub judice. A faculdade negou qualquer relação do caso com a mudança no núcleo.
Já a reitoria da USP informou que a Procuradoria analisa a parte jurídico-formal dos processos, mas não define as penalidades a serem aplicadas.
Cerveja. Um grupo de cervejarias decidiu interromper o patrocínio a festas universitárias “open bar” em todo o País. A Associação Brasileira da Indústria da Cerveja, que representa a Ambev, a Brasil Kirin, o Grupo Petrópolis e a Heineken Brasil, deu início a uma campanha nacional para que os distribuidores não participem desse tipo de evento.
“Na nossa visão, isso acaba estimulando o consumo abusivo, nocivo, que o setor não quer de seus consumidores”, disse o diretor-executivo da Cerv Brasil, Paulo Petroni.
A associação também promoverá ações em diversos municípios para conscientizar distribuidores sobre o combate ao consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes.