Autoridades de saúde brasileiras dizem não esperar uma segunda onda de infecções generalizadas de Zika, similar à que ocorreu há um ano, apesar de temperaturas quentes favorecerem a reprodução do mosquito responsável por transmitir o vírus.
(Extra, 28/10/2016 – acesse no site de origem)
O Zika, que já se espalhou para quase 60 países ao redor do mundo, continua a infectar pessoas no Brasil, onde mais de 200 mil diagnósticos foram registrados desde o início do ano.
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Contudo, a infecção anterior, iniciada em 2015, antes de médicos locais terem reconhecido a chegada do Zika na América Latina, pode agora levar a um maior grau de imunidade em áreas como o Nordeste, onde o surto foi primeiramente detectado e, acredita-se, foi mais grave.
Junto com esforços sustentados para combater o aumento da população de mosquitos, autoridades dizem que a maior imunidade deve impedir uma epidemia intensa como a que abalou o Brasil a partir do final de 2015, particularmente depois que o Zika foi associado com uma onda de problemas em recém-nascidos e outras complicações neurológicas.
“A expectativa seria de uma redução”, afirmou Eduardo Hage, diretor do departamento de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, em entrevista pelo telefone.
Mesmo assim, Hage alertou que o vírus é tão pouco compreendido e difícil de rastrear que uma comparação plena com o ano passado, muito menos uma previsão definitiva para os próximos meses, é impossível.
Com o verão se aproximando, médicos e autoridades de saúde pública admitem que eles podem vir a enfrentar um desafio maior do que o esperado se o clima ficar muito quente e úmido, tornando mais difícil o combate ao mosquito.
“É provável que vamos ter uma proporção menor, mas tem muitas variáveis e seria temerário afirmar isso com certeza”, disse Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas, um centro de pesquisas em Belém.
Ele e outros cientistas dizem que apesar da maior imunidade em partes do país, as pessoas poderiam permanecer suscetíveis em áreas como a cidade de São Paulo, que, acredita-se, não foi tão exposta como o Rio e o Nordeste.
Ao mesmo tempo, cientistas no Brasil e em outros países continuam a lidar com um mistério: a concentração no Nordeste de problemas em crianças nascidas de mães que pegaram o vírus quando grávidas.
Dos 2.063 casos confirmados registrados até agora no Brasil de microcefalia, uma má-formação cerebral do recém-nascido, mais de dois terços foram no Nordeste.
Por Paulo Prada