O documentário Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero foi exibido hoje (1°) em um cinema de Salvador em evento organizado pela Entidade das Nações Unidas Para a Igualdade de Gêneros e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Bahia, empresas e outras organizações.
(Agência Brasil, 01/11/2016 – acesse no site de origem)
Segundo os criadores do filme, o documentário tenta aproximar os homens do tema da desigualdade entre eles e as mulheres. Entre os espectadores, jovens estudantes, mulheres e homens demonstravam surpresa, emoções e concordância com as falas dos entrevistados do filme.
O estudante do ensino médio Vadson Santana da Silva, 27 anos, disse que o machismo atinge também os homens e ele diz ter percebido isso quando passou a participar de oficinas e trabalhos em grupo sobre o preconceito e a intolerância. “O filme me deixou bastante a refletir. Eu vou trazer algumas coisas para a sala de aula e debater. Porque, na verdade, na sala tem muita gente ainda preconceituosa, que se diz ser algo, mas não faz.”
Para a estudante Lorença de Jesus, 16 anos, o ambiente escolar é um dos locais em que o discurso machista mais se repete, como reflexo do ambiente doméstico. “No colégio ou na rua, só porque colocamos um short curto chamam a gente de vagabunda e nos julgam por isso. Nas ruas, há lugares por onde eu passo, até na frente do meu colégio, que me assediam, falam coisas que me dão muito medo.”
O filme tem relatos de especialistas, representantes da sociedade civil e de instituições de defesa da igualdade de gênero sobre as dificuldades que as mulheres ainda encaram, no dia a dia, no Brasil e no mundo. Além disso, destaca a ideia de que o machismo é maléfico não apenas para as mulheres, mas também para os homens que, segundo os entrevistados, acabam se adequando a estereótipos sexistas em detrimento da própria personalidade.
Pesquisa
O documentário é resultado de uma pesquisa feita pela ONU Mulheres com mais de 20 mil entrevistados, que mostrou que 95% das mulheres e 81% dos homens concordam com a afirmação de que o Brasil é um país machista. Entre os homens, 3% se consideram “bastante machistas”.
A gerente de programas do escritório da ONU Mulheres para o Brasil, Joana Chagas, destaca que, apesar de muitas pessoas terem conhecimento sobre os males do machismo, muitas continuam reproduzindo comportamentos sexistas. “É uma mudança muito gradual. Por ser cultural, por ser construída, não quer dizer que é fácil de mudar. Mas a atitude de falar sobre isso e de assumir isso, já é uma atitude positiva, já é um primeiro passo para uma mudança real.”
A secretária de Políticas para as Mulheres da Bahia, Olívia Santana, destacou a presença representativa de homens na plateia, o que, segundo ela, “tem um grande significado”.
“[Na Bahia há] Muita desigualdade, a desigualdade é nacional e impacta fortemente em um estado nordestino, que tem uma trajetória patrimonialista, coronelista, colocando a mulher como propriedade do homem e isso sempre foi naturalizado. De repente, nós estamos remando contra essa maré cultural, estamos na contracultura”, disse a secretária.
Segundo Olívia Santana, as condições para as mulheres negras são ainda piores. “Estamos saindo de posições diferentes, mesmo na engrenagem e opressão num país colonialista. Mulheres negras e brancas têm pontos distintos de partida e diferentes práticas de resistência ao machismo. Todas nós, mulheres, estamos lutando contra o machismo, mas nós mulheres negras acrescentamos, à luta, o racismo.”
A secretária defendeu a exibição do filme em salas de aula, empresas, institutos e nas casas para ajudar a desconstruir conceitos machistas que as pessoas “acabam reproduzindo até mesmo inconscientemente”.
A íntegra do documentário Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero está disponível no Youtube.